segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Encontro de leoas 2



Para quem não leu Encontro de leoas 1, recomendo e aviso... as duas aí abaixo sou eu mesma, fragmentada em meus eus dissonantes, que às vezes digladiam. Superego e ego, Maria Luiza e Malu têm perspectivas diversas da vida, nas suas múltiplas manifestações.

Maria Luiza: Muito bem, Dona Malu... vamos ver onde ficou a empáfia aquela do outro texto. Te achei toda cheia de si, segura e tal... parecia ter certezas absolutas... cheia de teorias....me admirei. Então, qual é o tom do texto de hoje? Vai continuar na mesma linha amor derramado ou vamos mudar o rumo dessa prosa?

Malu: Mas era só o que me faltava! Já não me bastam as agruras do cotidiano, os micos que passo 24 horas por dia, por esse meu jeito, ainda tenho que aguentar uma senhora caquética, típica de superego feito a facão, que vem me dar discurso e ironizar o que eu sinto.

Maria Luiza: Bem, querida, tem que arcar com as consequências dos teus atos. Escolhas. Tudo na vida é resultado de escolhas. Você acredita em tudo, em fadas, duendes, bruxas, em filmes românticos, novelas... até no amor. Acredita no que te dizem, acredita que as pessoas te gostam, acredita nos relacionamentos, em uma sociedade mais justa, nas rodas de amizade, em projetos de união entre as pessoas, acredita na teoria do Maturana, quando ele fala que a cooperação é o natural do ser humano e não a competição. Acredita que é possível resgatar relacionamentos ternos e que o acolhimento humano é algo a ser resgatado. Você acredita mais em quê?

Malu: Mas me diz, criatura, se não for acreditar no amor, vou acreditar em quê?

Maria Luiza: Vampiros? Risos... Papai Noel? Coelhinho da Páscoa?

Malu: Páaaraaa.

Maria Luiza: Olha, eu não peço muito, apenas que você aterrisse. Algo como botar os pés no chão e se dar conta que existe chão. Então, peço o básico, tipo tubinho preto da existência, cultivo ao elemento terra, que pode te oferecer um pouco de racionalidade – já que bastante racionalidade eu sei que nem adianta pedir.. é tempo perdido.

Malu: Falando em chão, você sabe pisar, né? É uma beleza. Tá, venceu no argumento. Você adora isso. Vencer no argumento. Agora eu pergunto: o que isso muda? Que diferença faz, para nós duas que você esteja certa? Se eu estivesse certa seria muuuittto melhor. Na prática, você deveria torcer por mim.

Maria Luiza: Mas você não entende. Não é uma questão de torcer. A vida não é uma partida de futebol. Se fosse um jogo, estaria mais para um jogo de cartas, em que ganha quem percebe os sinais sutis e, principalmente, quem desconfia dos parceiros jogadores, quem entende que existem jogadores experientes, gente que não sente de verdade, que blefa, que não entrega o jogo, como você, que se entrega, como se estivesse se atirando no mar, de um penhasco... Você é uma suicida amorosa, em todos os campos do amor. Acho que por isso você tem medo de nadar...não se arrisca na água, porque teme o elemento água, que representa os sentimentos. Literalmente, não é tua praia.

Malu: Mas como? Você tá doida? Mas é disso o que eu mais vivo...vivo imersa em sentimentos...

Maria Luiza: Ah, não. Não me venha com teu texto meloso, que hoje não estou pra isso. Estou sem paciência. Eu tenho um mundo de coisas para fazer, disciplinas novas para preparar, um livro para fechar a edição – com o processo em um momento em que o resultado não depende só de mim, mas de outras pessoas fazerem sua parte. Tenho um outro livro pra finalizar...artigos para escrever... o projeto das Rodas de Amizade, que você inventou, em produção.. o cotidiano, a Pazza, os clientes, a casa, os filhos.. você não me venha falar de amor....

Malu: Calma, calma.. também não precisa ficar histérica. Não vou falar de amor. Não hoje contigo (depois falo em outro texto de novo.. quando me inspirar, risos).

Maria Luiza: Tô dizendo, você não me leva a sério. Faz brincadeira até com sofrimento e cansaço. A vida toda tá em turbulência, com mudanças grandes em vista e você brincando...

Malu: Tá.. quer que eu faça o quê? Se dramatizo, você reclama. Se brinco, você reclama...Você é uma insatisfeita por natureza. Eu, não. Tento, tento.. se não der..faço graça. Rio do roteiro. Eu sei que exagero às vezes – só às vezes, risos... Lamento. Sei escrever ficção. Sei imaginar coisas boas. Se elas não acontecem, não é culpa minha. Mas que o roteiro era bom, era. Minha vida tem trilha sonora e final feliz. Caso não seja assim, eu reescrevo, gravo de novo, troco os atores, reinvento a cena. Mas eu sei que minha vida tem desfechos felizes. Se os textos não chegarem ao ponto da felicidade, é porque não estão finalizados, como roteiro de vida Malu mesmo. Não estão prontos. São esboços, tentativas. Ensaios de realizações.

Maria Luiza: Olha aí. Na tua fase de vida, não se permite ensaio. É tudo ao vivo. Tudo valendo. Tem que planejar, no que é possível, mas cada dia a gente entra em cena, sendo inteira. Se errarmos, já era, ou, pior, temos que arcar com as consequências disso. Você vive errando. Você vive botando tudo a perder...

Malu: Eu vivo errando, né? Eu, né? Sim, vivo errando, porque vivo tentando. Não fico encolhida feito você, escondida atrás dos afazeres, se enchendo de coisas e se negando a arriscar. Não vê que, pelo teu jeito, a Luiza até foi se embora, pro esconderijo. Bem fez ela, assim não tem que te escutar.

Maria Luiza: Bem, essa outra aí, sem uma dose de uísque não dá pra aguentar. Ali chegou a melosidade e parou. Quando ela se aproxima tenho medo de me transformar num pote de mel, irkkkkk....ou num rio de lágrimas... Vamos parar por hoje. Não estou satisfeita, mas também dessa vez não tive que te aturar com discursos utópicos...você está mais contida.

Malu: Tá, bem mais, se isso te agrada. Bem mais... pelo menos por hoje. Amanhã, não sei. Amanhã será outro dia, como diria Scarlet Ohara. Risos e mais risos.

Maria Luiza: Você não tem jeito...

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