quarta-feira, 8 de agosto de 2018

Segundo semestre e o Mar Vermelho


Segundo semestre é acontecimento bíblico. O semestre começou e essa ideia não me sai da cabeça. Eu não sou especialista no assunto, mas a grandiosidade do momento, a sensação de estar caminhando para um grande episódio, desafiador, me faz lembrar a passagem pelo mar vermelho. Lembrar do que eu li (bem explicado, eu não estava lá...ou talvez estivesse, não sei, em outra encarnação!). Lembrar do que eu ouvi falar, lembrar das lições que aprendi e, principalmente, das sensações que tive, quando entrei em contato com a história, sobre os desafios vividos pelo povo, que recebeu a ordem de marchar, de acreditar e seguir em frente. Sim, o segundo semestre é o nosso Mar Vermelho.

No começo, a gente consegue ver as águas levantadas, contidas por uma força maior, mas se sabe que, daqui a pouco, elas começam a se soltar e estaremos todos em meio às águas revoltas dos mares de tarefas em setembro em diante. Agora, é o momento de preparação. Vemos tudo ‘se armando’... se preparando... sentimos a intensidade se avizinhando, ao mesmo tempo em que já estamos todos meio inebriados, embriagados de tantos respingos das águas que nos avizinham, nos espreitam. A cada ano, parece que as águas se tornam mais fortes e que se desmancham antes nos jogando contra os rochedos, depois de perder o chão de nós mesmos. Que o Moço da Parede dos ajude a seguir Viagem!



sábado, 4 de agosto de 2018

Olhos quebrados não têm remendos!


Uso óculos há muitos anos. Miopia é a principal causa. Eu, que sou amante das metáforas e de reflexões sobre a subjetividade, fico pensando que a miopia tem também a ver com características emocionais. Lembro-me do professor Peñuela, que nos ensinava, na década de1990, na USP, que as imagens não nítidas têm a ver com o inconsciente. Onde não há nitidez, na imagem, há o inconsciente do criador e do receptor. Ali, inconscientes se encontram e produzem novas significações. Suas aulas eram encantatórias e, naquele tempo, eu entendi que faz muito sentido que eu seja míope, já que eu vejo a vida, o mundo, as pessoas, com os olhos do coração e isso me dá um ganho de intensidade e, tantas vezes, uma perda de nitidez, de 'clareza'. Percebo que, ao longo da vida, fui aprendendo a dosar essas duas tendências, por precaução, amadurecimento e autodefesa.

Quando começo a pensar nesse assunto, lembro-me sempre, também, da linda canção de Luis Carlos Borges, que diz: “me quebrou o vidro dos olhos, me fez chorar, me fez chorar. Quem o vidro dos meus olhos vai agora remendar?”. Ouvi essa música, pela primeira vez, em um sho do cantor e compositor, em um bar em São Paulo, cujo nome era também emblemático: “Vou Vivendo!”. Na época, fazia a pós-graduação na USP e, mesmo sendo paulista, depois de ter vivido um tempo no Rio Grande do Sul, já me sentia um pouco desgarrada dos pagos... sentia saudade do Rio Grande do Sul. Juntando a isso o fato de que era casada com um gaúcho, também amante da música gaudéria... enfim.. fomos ao show.

Quando Luis Carlos Borges cantou essa música, fiquei impactada. A letra me provocava a pensar, para variar. No caso, fiquei pensando que minha característica de chorona, então, poderia ser porque alguém ‘me quebrou o vidro dos olhos’. Já tinha entendido, no entanto, que isso não era verdade. O choro, em mim, assim como o riso fluem soltos, sem muitas travas capazes de conter. É bom não provocar, mas, tantas vezes, mesmo sem provocação, eles brotam naturais. Choro e rio por qualquer coisas. O choro, no entanto, é traço mais conhecido. Choro com comercial de tevê, a fala de um filho, o olhar de uma aluna, a voz de uma amiga distante, o simples encontro com os olhos com meus amores, na vida. Choro com lembranças, com músicas, já chorei em parada de ônibus, no Banco o Brasil (!), em despedidas, então, bom... aí nem se fala. Choro às vezes porque me olham; em outras, porque não me veem. Choro também de alegria, choro porque, muitas vezes, a emoção me diz que a vida vale a pena. Já chorei imensas vezes olhando a floresta amazônica e aprendiz com ela mesma que a chuva também é natureza e que o choro é chuva em mim, tem a ver com a minha natureza.

Os olhos e, nesse sentido, sua extensão, os óculos têm sido tão importantes na minha vida. Muitas vezes, ao me deitar, pego óculos antigos, para seguir assistindo ao programa de tevê. Caso adormeça, já estou de óculos, com lentes antigas, que me acompanharam por longo tempo, lentes mais sábias. “Só eu mesma!”, rio sozinha, desse meu pensamento. Também penso que durmo com esses óculos antigos para não correr o risco de não enxergar os sonhos, de não saber quem são as pessoas que estão nos meus sonhos e o que estão buscando, de não compreender as cenas, as vivências. A pretensão da pessoa querer interpretar o próprio sonho, enquanto sonha!  Enfim, amo também as pessoas que conseguem me encontrar nos meus sonhos. Entrar no meu sonho já é uma marca de significação, pra mim.

Olhos, óculos, sonhos, choro... enxergar pouco ou muito, encontrar os olhos das pessoas e as variações de luminosidade da vida. Tudo isso me toma o pensamento e o coração, o sentimento, por tantas vezes. Hoje, a retomada da temática se deu, porque tive que correr à ótica, porque meu óculos se quebraram! Uma das lentes se desprendeu, na lateral, por falha na solda. Lente solta, variações da imagem. Talvez sejam as mudanças no meu modo de olhar, que se associam ao aparato material (os óculos), pelo qual vejo as cenas tantas, motivo dessa transformação. Reflito, então, que preciso me dedicar ao ajuste dos óculos, dos olhos, do coração! Mais do que perguntar quem quebrou meus óculos ou de me repreender por tê-los deixado se quebrar, penso que preciso agir, ajustar as lentes, o aparato, o olhar, a visão, a emoção.



Na ótica, a moça me disse que não vale a pena soltar o que foi quebrado, é melhor trocar a armação! Fiquei pensando que isso também é um texto, metafórico, visual, existencial. Em grande parte das situações, não vale a pena soldar o que foi quebrado, é necessário conquistar ‘novas armações’. Rio sozinha, pensando nas múltiplas relações... e, como sempre, sigo Viagem. Até a próxima!