terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Equilibrista e Des-penc-‘adora’


A metáfora da equilibrista tem me acompanhado nos últimos anos. Não que eu seja muito equilibraaaaada, mas, na prática, como todo mundo, vivo o tempo todo às voltas com a necessidade de equilibrar meus humores, meu cotidiano, a mim mesma. Há alguns anos, aprendi uma Oficina, uma dinâmica de grupo, que tenho trabalhado durante muito tempo, na disciplina de Comunicação e Psicologia ou Psicologia da Comunicação, como era chamada antes. Oficina do Equilibrista. É uma prática muito divertida, simples, mas, como tudo simples na vida, que se remete às questões mais complexas e profundas da existência. Eu tenho aprendido que há uma conexão direta entre a simplicidade e a complexidade.

O que me traz a lembrança hoje é a parte final da oficina, não a inicial. Não é a parte do equilíbrio, que está em jogo, mas o momento do desequilíbrio, que, no caso da oficina, é chamado de ‘momento de despencar’. Explico: na atividade, os participantes são chamados a testar o equilíbrio, com o corpo. Inclinam-se para a direita, depois para a esquerda, para frente, para trás. A inclinação é até o ponto máximo de equilíbrio. Tem que se inclinar até o máximo, tentando ampliar os limites, sem cair. Depois de fazer isso um tempo, eu sempre peço para o grupo treinar o ‘despencamento’, quer dizer, treinar cair no chão. É interessante observar que as pessoas ficam perplexas, incrédulas. Algumas balbuciam, visivelmente em dúvida, tentando confirmar a orientação: “Hum, des-pen-car, assim... se jogar no chão?”. “Sim, sim”, eu confirmo. Despencar... cair no chão, mas a ideia é que ninguém se machuque. Então, cada um tem que descobrir uma maneira de despencar, sem se machucar.

Depois de um tempo em dúvida, alguém se arrisca, corajosamente. Depois outro, outra, e assim sucessivamente. Em geral, que a primeira pessoa ‘se permite’ o ato de despencar, existe a tendência que as outras também despenquem. Eu também despenco. Às vezes, em primeiro lugar, se o grupo empacar. O que tentamos entender depois é por que existe tanto medo de despencar? Na tentativa de responder, as respostas giram em torno de “Fiquei com medo de me machucar.” , “Ah, dá vergonha, porque parece que vai ficar todo mundo olhando.” , “Eu fico pensando, e depois? Como vou conseguir levantar?”. Bem, então, dá pra entender o que está em jogo: o medo, de se machucar, o medo da exposição, o medo das consequências, de não conseguir reverter algum resultado negativo. O que chama atenção é o jogo de forças entre a vontade de se arriscar e despencar e o medo, que trava. Assim, na ‘beira do abismo’ de si mesmo, o sujeito se debate com uma questão mitológica, em que está em jogo um dos grandes dilemas do ser humano: manter-se na monotonia e conforto do mundo conhecido ou arriscar-se e despencar num mundo novo, todo a ser construído, inventado, cheio de oportunidades novas. Esse mundo pode machucar, mas também poder ser cheio de alegrias, prazeres, felicidade.

Fico pensando, então, que, nas mudanças da vida, há sempre risco. Risco de despencarmos em um projeto novo, um novo emprego, um novo amor, uma nova condição de vida, a mudança para outro lugar. ‘Despencar’ em uma nova história é uma ousadia, é uma manifestação de coragem, às vezes de loucura, mas, quero crer, naquela proporção em que a loucura é necessária, quando o que vivemos é algo a ser abandonado. Ir embora. Aprontar-se para partir não necessariamente é ruim, se o que estamos deixando é uma vida com limitações importantes, para o rumo do que chamamos de felicidade. Eu tenho me esforçado para ter coragem de despencar em projetos novos de vida, sempre que algo me incomoda e outra coisa me mobiliza. Nem sempre é fácil. Às vezes, é, mesmo, imensamente difícil. Em muitas situações, faço o despencamento com medo, com muito medo. Mas tenho procurado enfrentar ‘o instante’, o ponto limite aquele, em que temos que decidir se vamos adiante, se nos entregamos para o motivo do despencamento ou se damos um passo atrás, recuamos, retomamos o ‘controle’ da situação, porque resgatamos a monotonia confortável da situação de antes.

Minha vida de viagens, nos últimos tempos, no último ano, em especial, provocou a Malu Equilibrista e Des-penc-‘adora’ e eu tenho me soltado em muitos, muitos projetos novos... em todos os que vejo possibilidade, real ou pressentida, intuída, sentida...de obter ALEGRIA. Com o tempo, entendi, vivendo, que a intensidade dessa força que nos impulsiona para ‘o algo’ esse que buscamos... pode ser chamada D E S E J O. As duas palavras DESPENCAR E DESEJOS simulam movimento para frente, impulsionam o sujeito. Diga-as bem devagar que você vai perceber isso... DEEEESSSSPEEEENCCCAAAAARRR.... DEEEESSSSSEEEEEJJJOOO. São palavras saborosas. O resultado pode também machucar, mas, pela experiência que tenho, a coragem de enfrentá-las e vivê-las no seu risco.. na sua graça... já é uma satisfação porque essa é a nossa grande chance de felicidade. Enfim... eu sigo... vamos despencar comigo?

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