sábado, 12 de maio de 2018

Lembrando do meu filho Rafael!




Há dias, meu filho Rafael não me sai da cabeça. Tenho pensado muito nele, imaginando onde ele pode estar, o que estará fazendo, como será que está sua vida. Será que se alimentou bem? Está agasalhado? E a escola? Os projetos de vida? Como serão seus projetos de vida? Eu gostaria tanto que ele tivesse projetos de vida...

Quem me conhece, quem me acompanha, de alguma maneira, na vida, sabe que eu não tenho um filho chamado Rafael. Então, de quem estou falando? Falo de um menino que um dia me mandou um cartão de Dia das Mães, sem nunca ter me conhecido. Foi um cartão muito especial, muito emocionante, impactante mesmo. Isso já faz vários anos, não sei ao certo, mas penso que já vão mais de 10 anos do acontecimento do ‘cartão’ do Rafael. Eu vou contar aqui.

Naquele ano, o Dia das Mães se aproximava e meu filho Pietro estava hospitalizado. Eu fiquei sabendo que ele teria visita somente aos sábados e não aceitei. Pensei: “Não, Dia das Mães é domingo! Quero ver meu filho Pietro no Dia das Mães!”. Fui falar com a direção da clínica e parecia não haver jeito... me disseram: “Não podemos liberar somente para a senhora! As outras mães também iriam querer”. Argumentei que então liberassem para todas as mães, que não havia sentido impedir que crianças hospitalizadas vissem suas mães nesse dia, que seria um absurdo, que eu não aceitava de jeito nenhum. Bem, falei tanto que eles concordaram e liberaram a visita para todas as crianças. Eu fiquei muito feliz.

Cheguei cedo, antes mesmo do horário de visitas. Quando liberaram a entrada, logo o Pietro desceu e me trouxe uma cartolina ‘de presente’, com desenhos em homenagem pelo Dia das Mães. Chamou muito a atenção que a cartolina estava dividida pela metade, com um risco, um traço bem no meio. Em uma parte, o desenho era bem nítido, com traços de criança, mas que demonstravam a figura de uma mãe e um filho. Do outro lado, o desenho era totalmente abstrato, eram riscos não agrupados em uma expressão figurativa clara, riscos em desalinho. Não era possível compreender o que expressavam claramente. Com a maior delicadeza do mundo, perguntei para o Pietro porque havia aquela divisão e porque ele havia feito desenhos tão diferentes, o que ele quis dizer. A surpresa veio daí.

Pietro me olhou e respondeu naturalmente, sem se dar conta da proporção do significado do que me contaria. Ele me disse: “Não mãe, eu só desenhei desse lado [o que estava mais organizado]. Desse outro lado aqui [e mostrou, apontando, os desenhos com rabiscos desalinhados, desordenados] quem desenhou foi o Rafael. Ele me pediu emprestado, me pediu para fazer, porque ele não tem mãe e nunca fez desenho para uma mãe. Ele estava triste, porque não tinha para quem fazer desenho e eu emprestei metade do meu papel para ele fazer um desenho para você”. Eu fiquei imobilizada, emocionada pelo gesto do Pietro e pela condição do Rafael. Fiquei tentando não chorar... bem difícil.

A situação complicou um tanto, para mim, quando Pietro olhou para o alto e viu um menino ao lado de um atendente. O menino olhava fixamente para a gente. Pietro, então, me disse: “Mãe, aquele lá é o Rafael!”. Imediatamente me levantei, olhei para ele e disse: “Rafael, eu adorei o desenho! Muito obrigada! Muito obrigada mesmo!”. Ele abriu um sorriso imenso, arregalou os olhos e começou a saltitar, alegre, dizendo para o atendente: “Viu tio, ela é uma mãe de verdade e gostou do meu desenho. Uma mãe de verdade gostou do meu desenho. Eu fiz o desenho e ela gostou. Um mãe de verdade”. Meu Deus, eu não tenho como esquecer aquela cena. Um menino sem mãe me chamando de ‘mãe de verdade’, imensamente feliz porque pôde fazer o desenho para mim! As regras da clínica não permitiam, mas eu queria muito ter dado um abraço nele. Como faço tantas vezes, diante de situações que não posso mudar, que estão longe do meu alcance, escrevo e peço ao Moço da Parede que ajude!

Deixo aqui meu abraço para o filho Rafael que me adotou sem me conhecer e, em nome dele, meu abraço a todas as crianças que não conheceram suas mães biológicas ou adotivas. Que a história do Rafael seja um incentivo a todos quantos puderem acolher crianças em suas famílias, fazê-los ‘filhos de verdade’ com ‘amor de verdade’, que é o que mais importa nesta vida. Por experiência própria, eu recomendo muito a adoção como possibilidade de viver a imensidão de alegria que é ser mãe! É uma experiência tão linda e tão maravilhosa quanto à maternagem biológica! Sou testemunha disso!