terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Porque os dias não são iguais...


Um texto retomado, de uma sensação revivida... Escrevi este texto há alguns anos, mas, em algumas coisas, principalmente na filosofia de vida “porque os dias não são iguais”, ele continua válido.

Há algumas frases que às vezes nos vêm à cabeça, sem que saibamos exatamente de onde elas surgem. Uma destas, há algum tempo me assaltou: “Porque os dias não são iguais é que a vida faz sentido!”. Eu estava num dia estupendamente feliz, (assim como foi o do Natal passado). Destes em que a gente lava a alma. Havia recém desligado o telefone, de uma ligação que esperara muito tempo, em que ouvira coisas que queria ouvir havia muito tempo...”Porque os dias não são iguais é que a vida faz sentido!”. Naquele dia, havia um gosto indescritível de espiral do tempo, dessas voltas que a vida dá e nos coloca onde sempre quisemos estar. E a frase passou o dia ecoando em mim, como uma oração de graças e, ao mesmo tempo, de alerta.

Fico pensando que essas inspirações, essas ofertas generosas do Universo, trazem sempre muita sabedoria. Sabedoria simples, dessas que parecem filosofia de bar, de fim de noite, quando inebriados e alegres começamos a desvendar os grandes mistérios da vida. Naquele dia, eu estava bêbada de alegria, de prazer de ouvir o que sempre quisera ouvir. Outro defeito de fabricação da Malu: alegria por migalha, frases, palavras... eu, literalmente, sei ser feliz com pouco. Isso é bom e não é. Naquele dia, saltitava e, simultaneamente, compreendia que tudo fazia tanto sentido, porque eu tinha vivido outros dias. Entendia que o gosto daquele momento era resultante não apenas do momento, em si, mas também de outros tão diferentes. Outros momentos de espera, de incerteza, alguns de tristeza. Momentos de outros dias.

Acho que é preciso saborear os dias e até mesmo saborear as esperas. Sim, porque elas são, na verdade, promessas de devires, de momentos que devem vir a ser, em outros dias. Não há que se lamentar, apenas esperar. Esperar e acreditar. Construir a espera como promessa. Ir acreditando, para fazer da espera um acontecimento prometido. Um tomara que virá a ser. O Universo é generoso para quem sabe que a espera guarda o acontecimento futuro. Ele recompensa a espera, quando a espera não é ‘expecta’, como eu costumo dizer, quando a espera não espeta, não fere, quando a gente não se deixa ferir. É importante saber vivê-la. Não esbravejar contra o Universo e, principalmente, não entristecer-se mais da conta. Taambém não podemos nos dependurar na espera e transformá-la numa amarra que nos paralisa...expecta, nos prende, nos impede de viver o que há para ser vivido... o que se oferece como possibilidade. Enfim, a vida continua passando... viva! Quer dizer, uma espera, uma saudade, têm que ser vividas como diria o Drummond: “Uma ausência que está em mim”, como me referi no outro texto (Quando os filhotes partem). E isso precisa ensinar que, remoendo esse doendo de saudade, remexendo, sem mergulhar no entristecimento, a gente constrói o devir (quem sabe?)como realização e, não, como reforço do que não é possível.

“Quem espera sempre alcança”, diz a sabedoria popular. Penso que, na verdade, quem sabe esperar sempre alcança e, principalmente, quem acredita no resultado da espera pode alcançar... E, se não alcança, é porque o universo, o Grande Universo, decidiu assim. Aí não há o que fazer. No dia do telefonema inebriante, lembro ter dito para quem me ligou que sei esperar. Que o mesmo Universo que nos colocou frente a frente, bem longe, em outras praias, em outras terras, em outros tempos, um dia, um outro dia, vai me devolver o acontecimento, em outra cena da espiral do tempo, em outro giro da roda da vida, porque o acaso, ou o que se acredita ser acaso, não existe. Há, na verdade, conspirações, sincronicidades, que aproximam e afastam e voltam a aproximar seres que se interessam, que se merecem, que se aquecem de afetos e, afetivados, retornam sempre, ainda que seja só nas lembranças, ou nos sonhos, por um tempo. Porque os dias não são iguais é que a vida faz sentido! É só esperar...não esperar sentada, não esperar paralisada. Esperar vivendo. Esperar sendo feliz com o que há para viver. Esperar com a alegria pelo vivido, sem medo, sem pressa, sem expectativa disso ou daquilo. Esperar como quem guarda da cristaleira da memória uma relíquia delicada.

Nenhum comentário:

Postar um comentário