sábado, 4 de agosto de 2012

Leoas, quase amigas?





Maria Luiza: E aí?

Malu: E aí o quê? Não falei nada.

Maria Luiza: Não falou, mas pensou. Está pensando que é tempo de conversarmos.

Malu: É, mas não tinha decidiiiidooo, ainda.

Maria Luiza: Mas eu decidi. Vamos aos fatos?

Malu: Fatos? Você vai relatar fatos no blog? Você está bem? Está com febre?

Maria Luiza: Não preciso relatar, você sabe os fatos.

Malu: Até onde eu sei está tudo bem. Na verdade, não tinha decidido conversar, porque estou numa fase de certo modo nova pra mim... a mente parece mais esvaziada. Há textos, há acontecimentos cotidianos, mas há outra condição que me parece mais lenta e densa, dentro de mim, mais de sentir, ir sentindo, viver, ir vivendo, diferente.

Maria Luiza: Você sabe, isso tem a ver com o Caminho.

Malu: Sim, sei, com o Caminho e com outras orientações, que se entrecruzam.

Maria Luiza: Então, se fosse em outros tempos, as orientações que você recebeu te descabelariam.

Malu: Não brinque. Descabeladas, não vamos deixar de ser, em qualquer circunstância. Risos. Até quando lisas. Lembra aquela vez que a cabeleireira insistiu pra fazer escova, chapinha? Bah.. cabelo liso não combina com a ‘nossa’ personalidade. Lembro como se fosse hoje. Saí do salão, em plena avenida Osvaldo Aranha, em Porto Alegre. Ventava. Foi um horror. Cabelo liso desgovernado ao vento é uma loucura. Crespo, não. A pessoa já é descabelada de nascença. É mais coerente. É um descabelamento existencial, cristalizado ao longo do tempo. A pessoa se acostuma a ser descabelada crespa. Ninguém estranha mais... ‘Está descabelada? Ah.. tá, normal. É o meu normal’. Lembrei da expressão de um amor meu, aquele que é o ‘único’ que pode mexer nos meus cabelos... bom, mas isso é outra conversa.

Maria Luiza: É, não muda de assunto. Você é especialista em tergiversar. Sair pela tangente, quando o assunto não está favorecendo.

Malu: Eu e a torcida do Flamengo , né querida?

Maria Luiza: Você adora esta expressão! Vive repetindo.

Malu: Eu adoro expressões. Adoro escrever. Adoro as palavras. Você esqueceu que, literalmente, ‘vivemos disso’?

Maria Luiza: Não, mas você não precisava ser tão repetitiva. E o pior é que não se repete só nas palavras, nas expressões. Você se repete também nas atitudes, em algumas atitudes. Já é tempo de mudar algumas práticas. Estou vendo que vamos desencarnar e você vai levar junto alguns, digamos, procedimentos com ‘defeito’.

Malu: Tava demoraaaando. Começou a desfiar o rosário de críticas. Pra você eu sou toda errada. Estou sempre metendo os pés pelas mãos. Tá certo que me confundo às vezes, risos, mas não é sempre. Eu me confundo mais com os lados. Lado direito, lado esquerdo, risos.. tudo bem, é muita informação, pra quem já tem muita informação circulando no cérebro.

Maria Luiza: Mas vamos voltar ao que interessa. Diz pra mim, criatura de meu Deus, você entende quando falo na repetição?

Malu: Sim, claro que entendo. Mas a senhora entende que também estou aprendendo a mudar? Que as transformações recentes sinalizam para outro jeito de caminhar? Para outras estradas?

Maria Luiza: Não sei, não sei. Eu tenho cá minhas dúvidas sobre a profundidade dessas mudanças. Não sei se são consistentes, se já atingiram um nível de consistência que garanta permanecer na decisão.

Malu: Bem, claro, eu não posso e nem pretendo garantir nada. Aprendi que uma mudança, uma decisão, não pode existir apenas no discurso. Muitas vezes, nem precisa discurso. Ela tem que ir existindo de fato, na realidade. Estou avançando, aos poucos.

Maria Luiza: Beeeem aos poucos, você quer dizer. Risos.

Malu: Mas você não vê que não dá pra mudar do dia pra noite?

Maria Luiza: Do dia pra noite? Você sabe, estamos falando de coisas que você passou a vida inteira repetindo, procedimentos operacionais existenciais sobre os quais eu venho chamando a tua atenção e você não ‘habilita’ o corretor interno pra mudar de rumo. Parece mais uma mula empacada, quando se tratam de sentimentos.

Malu: Desempaquei. Desempaquei. Lembra? Ponto final? Ou melhor: lembra dos pontos finais? Do mais recente? Do novo início?

Maria Luiza: Sim, querida outro eu de plantão e mais frequente, lembro e te parabenizo. PelamordeDeus, o problema é quanto tempo você demora para fazer isso. Não vê que a vida pode ser mais fácil, mais leve, se você aciona o motor prático operacional. Lê o que está ocorrendo no cotidiano com clareza. Isso nós aprendemos bem e muito. Ler texto visível e invisível. Textos abstratos, subjacentes, nas entrelinhas. Você não precisa ficar fazendo de conta que não entendeu. Basta! Sai andando, vai embora. Não te prende. Já te disse, a estrada é grande. Olha o que está acontecendo agora? Não aconteceria, se você ficasse trancada, empacada.

Malu: É, mas você sabe, sou obstinada e intensa. Quando gosto de uma pessoa ou um projeto, eu invisto, eu acredito, está matriz do conceito de amorosidade, de desejo, a crença no devir, a esperança de conseguir. Já conseguimos muitas coisas sabendo desejar, também. Não é verdade?

Maria Luiza: É, está na matriz do conceito de idiotice também.

Malu: Este é um dos seus problemas. Você é incrédula. Você não acredita nas pessoas. Desconfia. Fica sempre me chamando atenção, pra não ser assim tão derramadamente afetiva e tal.

Maria Luiza: Calma. Não é que não acredito nas pessoas. Não acredito em tudo o que dizem, só porque dizem. Falar é muito fácil. Eu acredito no texto maior, que se constitui de frases, substrato informacional abstrato e, principalmente, atitudes. O resto é expressão sem consistência.

Malu: Ai meu Deus, resolveu me dar aula agora. Tô perdida.

Maria Luiza: Não adianta, você entende só o que quer... parece que existimos em canais diferentes... falamos mais outra hora. Quem sabe a Doutora aparece e junta de novo.

Malu: Ufa! Pensei que você não fosse mais desistir, que ia passar falando o resto da noite. Discursando. Até.