quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Encontro de leoas 4: a leoa e a 'leoazinha'



Maria Luiza: Eu achei, sinceramente, que, na dureza desses tempos, na turbulência do cotidiano, como diria o Skank, você não apareceria.

Luiza: Estou sempre aqui. A senhora bem sabe. Eu e a Malu tomamos as grandes decisões, sempre, enquanto a senhora discursa.

Maria Luiza: Mas olha só, a 'leoazinha' apareceu e apareceu valente. Isso hoje. Ontem estava aos prantos, com o final do livro que estamos escrevendo para o Sindicato dos Comerciários de Carazinho.

Luiza: Aos prantos, não. Estava emocionada, é diferente. A senhora também deveria estar, depois de tanto trabalho, ao reler o último texto, em que nos despedimos dos leitores e agradecemos a amizade de todos. Emoção por tudo, pelas pessoas, pelo carinho, pelo amor envolvido, pelo trabalho de Jornalismo da Malu, as idas e vindas a Carazinho, as viagens... eu me emociono.

Maria Luiza: eu sei de tudo isso. Só eu sei bem de tudo. Não fosse você e a Malu e esse raio de emoção derramada as coisas seriam mais fáceis. Será que vocês nunca vão aprender a fazer as coisas sem se emocionar tanto? Vocês vieram com defeito de fabricação instalado. São descompensadas emocionalmente. Você, então, nem se fala... vive sempre no limite da poética da existência. A Malu, ao menos, é impulsiva, e isso, às vezes ajuda (atenção, eu disse às vezes, que ela não me escute).

Luiza: Bem, defeito por defeito, eu prefiro os meus. É melhor do que o seu, nesse jeito prático de encarar a realidade o tempo todo, de tentar enxergar tudo às claras, sua obsessão pelo real, o real. Mas que real? Eu cresci acordando de madrugada para ler histórias e já chorava e sofria com os personagens. A ficção já era parte da minha vida...agora vou ter que viver tudo no real?..Isso é impossível. De certa forma, eu sei que sou um ser da ficção.

Eu não sei de onde a senhora arruma tanta frieza, para tantas vezes, só virar as costas e seguir adiante, ir embora, pisando firme. Faz cara de brava e vai em frente, enquanto eu fico me demolindo aqui dentro.

Maria Luiza: Eu sofro também, mas de nada adianta. Sou descendente de gente que atravessou o mar para buscar uma nova vida, para reinventar a Itália, aqui nessas bandas. Gente que aprendeu a engolir o choro porque ninguém valoriza quem chora. Eu
não tenho tempo para me derramar em lágrimas. sou uma pessoa que não tenho tempo para adoecer nem para falecer.

Uma vez, atendi uma ligação de um vendedor de seguros de vida. Achei graça até. O rapaz, com uma conversa típica de telemarketing, queria de todas as maneiras me convencer a comprar um seguro de vida. Eu o indaguei: mas pra quê? Você não tem noção. Uma pessoa como eu tem estabilidade na vida. Mãe de quatro filhos, divorciada, microempresária, educadora, jornalista. Como é que vou morrer? Tá doido?

Ele não aceitava muito. Tentou argumentar que ninguém sabe o que vai acontecer, que ninguém prevê o futuro. Eu respondi: 'Mas é uma questão de lógica! Vivo movida pelo jornalismo (da tal Malu aquela que você conhece). Como empresária, também vivo de informação e intuição. Não há, no cenário, digamos assim, nenhum indício de falecimento da Malu, nem meu, nem de você ou da Cardinale e as outras. Sei lá... se o resultado é bom eu não sei, mas que eu tenho um monte de tarefas.. .ah isso eu tenho...então não tem lógica. Aquele Senhor que tudo comanda não vai me tirar daqui tão cedo. A lista que ele me deu é imensa. Então, eu sigo tentando.

Luiza: Então aproveita...

Maria Luiza: Claro... claro.Agora conta a do papagaio que essa é muito boa. Quem aproveita é a Malu, que sai fazendo o que lhe dá na telha. E depois pergunta: o que deu errado? Mas não era verdade? (quando pergunta, porque aquela lá é a empáfia pura...vive se quebrando e acha que está certa ainda, a apaixonada por natureza, criatura desmedida). Eu tenho é que apagar os incêndios que ela arma, reacende - a tonta - e conter as enchentes que você produz, quando você desagua.

Luiza: (olhando pela janela do ônibus) Olha que bonita a serra gaúcha! Estamos indo a Caxias, para iniciar um projeto novo de trabalho. Nem tudo vai ser como eu queria, mas penso que vai ser lindo... a vida mudando, o movimento... a estrada...recomeço, ainda que diferente do que pensamos..recomeço.

Maria Luiza: (pensando) Pronto. Começou o delírio. Ela já se soltou na linha da poética da existência. Melhor não dar corda. Fazer de conta que não percebo. Luiza é assim. Se eu der bronca e largar umas verdades 'verdadeiras'...ela desaba no choro e aí vai o dia inteiro. Melhor não falar nada. É uma questão de custo-benefício. Vou continuar listando as tarefas e fazendo alguns contatos pelo celular. Daqui a pouco estaremos em Caxias e tenho o dia cheio.

Maria Luiza: Tá. Então tá.. é sim.. tudo lindo (melhor não contrariar). Depois falamos mais.

Nenhum comentário:

Postar um comentário