quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Dor e Prazer: o Parto do Livro


A temática não é novidade, nos meus escritos. Há tempos escrevo sobre dor e prazer no processo de escrita. Essa é a temática da minha tese na USP, que me rendeu o título de doutora em Ciências da Comunicação. Quer dizer, é uma das coisas sobre as quais eu mais entendo. O que há de novo, então? De novo, o meu novo livro: Faço Parte! 30 anos. Histórias e Personagens do Sindicato dos Comerciários de Carazinho e Região. Um livro lindo, um livro realmente com muita história, com muitos personagens. Ele é resultado de um trabalho de quase nove meses, por coincidência ou não. Combina com a minha tese de que escrever um livro, uma obra como essas é quase como gerar um filho. As semelhanças são realmente muitas, sem dúvida.

Talvez, justamente por isso, eu esteja ainda sentindo as ‘dores do parto’. Sim, ele já nasceu. Está lindo, lindo, embora pouca gente o tenha visto. Ficou no ‘hospital-gráfica-encubadora’. Está sendo preparado para sair e ganhar o mundo. Um espetáculo a gestação e o nascimento de um livro. Só quem participa de um processo como esse, de forma dedicada, de imersão quase total, em vários períodos, reconhecendo a poética da combinação de tantas vidas, de tantas existências ali, consegue ter a dimensão do que estou dizendo.

Há também a questão técnica. O refinamento buscado em cada parte. Eu costumo dizer para meus alunos: “Em Comunicação, nada é detalhe! Tudo é fundamental!”. Então, chego a ser chata, meticulosa.Ali, no livro, nada é por acaso. Tudo foi pensado. Muito pensado. Muito mesmo. Provavelmente é por isso que minha cabeça esteja para estourar, desde ontem, quando deixei o livro na gráfica. Devem ser as ‘dores do parto do livro’. Eu estou toda doída e (mais que o normal) com a emoção alterada por vê-lo, assim, nascendo, com capa e tudo, as 152 páginas de cuidado. Bem, imagino que você deve estar pensando: ‘a Malu com emoção alterada mais que o normal.. isso é nitroglicerina pura! Vai explodir o mundo de emoção, então. Não sei o mundo. Espero que minha cabeça não estoure...tenho dúvidas!

A história desse livro é a do Sindicato dos Comerciários de Carazinho e Região e, de certa forma, é a minha própria história de jornalista ligada ao movimento sindical. Penso que resgatei a jornalista Maluca, em mim. Sim, eu sou jornalista de nascença. Sim, eu sou jornalista como matriz profissional. Amo esse meu ofício e tenho, sim, esse jeito jornalista de ser. Isso me põe Maluca na produção, acelerada e inquieta. Isso me dá uma força e uma aceleração de quem vibra com o que faz e sabe que, a qualquer momento, vai ser chamada para entrar ‘ao vivo’, porque é de vida que o jornalista se nutre. Vida dos outros. Nossa própria vida. Viva!!! Eu escrevi um artigo ano passado chamado Jornalismo Amoroso: Quem quer (a)provar? E exercitei a prática de Jornalismo e Amorosidade, na produção do livro.. muito.. muito...

Eu também entendi, mais que nunca, que meu ofício é contar histórias, as minhas e as suas, de cada um, de cada pessoa que se dispuser a me contar um belo causo. Os comerciários me receberam com um carinho sem par. Abriram o coração. Me receberam com alegria. Fui tudo sempre intenso e amoroso. Amizade verdadeira. Eu já chorei muito e sei que ainda vou chorar muito mais, com as lembranças desse tempo, desses quase nove meses de idas e vindas a Carazinho, dos encontros com a simplicidade e autenticidade de pessoas que vivem em um outro ritmo. Sim, eu sou apaixonada por eles. Sim, eu sou muito grata pela oportunidade que Deus me deu.

Quando iniciei ou trabalho, em julho do ano passado, eu estava vivendo um momento ainda muito doído, por conta de um problema pessoal de grande porte. Dores imensas, profundas, a vida em frangalhos, me esforçando para seguir adiante, continuar trabalhando, continuar tocando minha família, minha vida. O convite para o livro me mobilizou imediatamente, me deu alegria e as viagens praticamente semanais foram me ‘tratando’. A cada semana, chegar em Carazinho, encontrar a paz da cidade pequena, a praça, os amigos do Hotel San Remo, até a briga com os taxistas da cidade (bah... os taxistas da rodoviária são impossíveis, na sua maioria, eles não querem ligar o taxímetro. Semanalmente eu armava um briga, denunciei na prefeitura, reclamei... será que os caras não entendem que sou italiana e que não aceito pagar a mais, pelo que não é justo?), tudo foi montando uma rotina de vida ali...tudo foi montando a minha história em Carazinho.

Houve uma vez, logo no início, em que fui ao supermercado comprar lanche para a noite. Eu almoçava sempre no restaurante ao lado do Sindicato e à noite comprava uma fruta, iogurte, para um lanche rápido. Então, ao me dirigir ao supermercado, fiquei pensando o que comprar e me dei conta que, nos últimos anos, não tive muitas oportunidades de me preocupar com o que euzinha da Silva, quer dizer euzinha Cardinale Baptista queria comer. Na lida com os filhos, no meu jeito de mãe Malu eu acabo pensando em comprar isso pra um, isso pra outro.. aquilo pra outro... vou optando pelo gosto dos meus filhos... sem perceber. Mas ali, não, era só eu comigo mesma. Tinha que escolher lanche pra mim mesma, acho que pra menina Luiza. Então, de certa forma, Carazinho me presenteou comigo mesma.

Nas viagens, sem poder ler, eu pensava e organizava minha cabeça, olhando o verde, o sol, a noite...dormia e organizava os sonhos, sonhando meus sonhos mais sonhados... relembrando sonhos de antigamente, reafirmando outros que, teimosos, insistem em não se desgrudar de mim. Sonhos que se cristalizaram com o tempo no inconsciente e, vindos para a consciência, se transformaram em desejos. Eu tenho ainda, em mim, acionada a metralhadora de desejos de vida e sei bem para onde eles disparam. Nas viagens, retomei a clareza dos rumos dos investimentos desejantes e fui deixando que Deus me mostrasse, através dessa escrita outra, de vida, da minha vida, os caminhos a serem trilhados. Quero crer que estou na direção certa. Ainda não sei como Carazinho vai continuar entrando ‘nessa (minha) história’, mas quero muito descobrir...porque eu sei que a história não termina aqui. Pretendo seguir com as ‘rodas de amizade’, mas isso já é assunto para um outro texto...

Os últimos dias foram de dores mais intensas. Como numa gravidez biológica, foram dias e noites em que, ao se aproximar ‘a data de nascimento’, o filho esse não vai mais cabendo dentro da gente, vai se remexendo...e tudo dói. A emoção toda se altera e, mais sensíveis, nós, mães parideiras, sentimos a força da ambivalência materna que, ao mesmo tempo, quer que o filho nasça e nostalgicamente sente saudade do tempo da gestação (mesmo antes dele terminar), porque, nesse tempo, o filho (filho filho e filho livro), dentro de nós, ainda em produção, era só nosso. Mas filhos e livros são produzidos para ganharem o mundo. Assim está acontecendo com o meu “Faço Parte! 30 anos”... Dia 12 de março, será o lançamento oficial, em Carazinho, a apresentação pública, pela primeira vez.

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