quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Encontro das Leoas Maiores


Maria Luiza: Olha só! Quanta honra! Dra Cardinale em pessoa, em carne e osso. Achei que ia voltar a dialogar com a Malu.

Dra Cardinale: Ela não está muito disposta para conversar com a senhora, nas atuais circunstâncias. Sabe bem que vem por aí um derrame de ironia e discurso, tipo: “Eu te disse! Eu te avisei!”. Outra coisa, a senhora sabe bem que sou a mais completa, minha constituição é a mistura de vocês. Então, vai cuidando a fala, porque estou com pouca paciência.

Maria Luiza: Leoa furiosa, de novo?!

Dra Cardinale: Não, pelo contrário. Estou ‘serena’, firme, determinada, focada, eu diria. Eu sinto tudo, tenho a intensidade da Malu, a emocionalidade da Luiza, mas sei bem o que fazer. Um tanto de racionalidade herdei da senhora, mas racionalidade retrabalhada, com inteligência emocional. Então, me poupa o sermão, porque não é o caso. Nem pra Malu seria...

Maria Luiza: Então, em que ponto estamos?

Dra Cardinale: No ponto de a senhora reconhecer que não sabe nada de Mitologia ou esqueceu, por conveniência, porque não gosta de alguns mitos, se apega sempre aos de luta, de conquistas, de vencer batalhas, como o do Jasão e o Velocino de Ouro, que é o seu preferido. O que se esquece é que a vida se constitui a partir dos quatro elementos e, portanto, a Malu está sendo coerente com uma de nossas forças motrizes, talvez a mais marcante, o nosso diferencial, o que é a nossa marca existencial.

Maria Luiza: Muito bonito discurso, mas esse traço de Psiquê em nós tem trazido mais problemas do que qualquer outra coisa. E a Malu é mais fogo do que água...

Dra Cardinale: A senhora sabe que não é assim. Os encontros com Eros sempre valeram uma vida, porque produziram uma intensidade que ecoa e permanece no tempo. Agora, cada ser humano é o resultado de sua dosagem dos quatro elementos: água, fogo, terra e ar. Somos o que somos, porque assim fomos forjadas. Por sorte, hoje, a descompensação do elemento água, na associação com o ar, dentro de nós, amenizou-se um pouco. Ter nascido libra, com lua em libra é uma complicação. Ainda é pouco, eu sei, mas a predominância do ascendente sagitário já resolveu alguma coisa. Aos poucos, chegamos lá. Estamos aqui para isso: aprender, amadurecer, com cada vivência, cada dia, cada relacionamento. O que vivemos até agora já o suficiente para a Malu entender que ela não está perdendo nada, porque, na verdade, não tinha, de fato. Tinha apenas o querer. Apesar do tempo, da intensidade, foi tudo sempre ‘quase’....

Malu: Peraí, deixa eu me meter. Dá licença. Prometi que não ia falar, mas assim não dá. Eu não inventei nada. Sei o que vivi. Sei no que me baseei para fazer meus ‘investimentos desejantes em busca da felicidade’. Tá.. entendi.. sei.. não se pode perder o que não se tem, de fato.. entendi.. sim Dra.. entendi...

Dra Cardinale: Sim, querida. Tal como Psiquê, você foi fiel aos seus sentimentos. Sua busca, seus investimentos são legítimos. Mas já é tempo de serenar.. de saber com quem se está vivendo, de viver amores de forma mais madura. Você sempre foi verdadeiramente intensa, mas somente em momentos especiais, com parceiros especiais consegue o que tem conseguido agora, saber o que está fazendo, o que pretende, porque pretende... saber ir adiante e recuar... até mesmo ir embora, como é o caso. Vejo que você está madura na expressão dos desejos e isso é raro e importante. Aprender a não desistir à toa, mas também não insistir mais que é recomendável. Saber finalizar com doçura, sem mágoa, sem nada, só amorosidade... esquecer a diferença..os dissabores.. só seguir em frente.

Malu: É. Eu só fiz amar!

Dra Cardinale: Isso não termina. Você sabe que não termina. Temos uma cristaleira da memória repleta de amores lindos, especiais, que nos fizeram felizes, enquanto estiveram conosco. Só mudamos o rumo, o jeito, a flexibilidade exagerada no laço amoroso, que mais entrega do que pede. Investimento desejante tem que ser cuidado, nesse sentido. Se não... descompensa.. não compensa...o mercado precisa de resultados.

Maria Luiza: Mas voltando à Mitologia.. estava achando interessante a análise da doutora...só que, que eu me lembre, Psiquê não segue adiante com essa tranquilidade toda. Ela sofre muito, pela reação de Eros.

Dra Cardinale: Em parte a senhora está certa. O que acontece é que Eros é lindo, é o Deus do Amor, é assediado e adorado pelas mulheres e envaidecido por tê-las assim, tão desejosas...Ele sente prazer em encantá-las com suas palavras doces e seu desempenho inigualável. Eros encanta as mulheres. Não é apenas um sedutor. Mas ele tem fortes laços com a mãe Afrodite, a Deusa da Beleza. Afrodite é apegada a Eros e, por isso, é tão complicada a aproximação de qualquer mulher mortal. Afrodite não aprovaria...ciúme de mãe. Eros não quer decepcionar a mãe. Ele não conseguiu matar Psiquê, que foi a recomendação dela. Apaixonou-se por Psiquê, mas isso não foi suficiente... pelo menos não até essa parte do mito. Eros fugiu, culpando Psiquê, pelo (parcial) desfecho. Nesse ponto do mito, não se sabe o que acontecerá. Psiquê fez o que lhe era de direito na sua condição de fêmea. Agora Psiquê segue sua viagem...

Maria Luiza: Segue triste, para os trabalhos aqueles...

Dra Cardinale: Olha, por isso eu digo que a senhora não compreende a Mitologia. Os mitos são matrizes narrativas existenciais. Praticamente tudo está ali, mas na lógica quântica dos tempos múltiplos, da espiral do tempo, existem atualizações. Psiquê não é mais a mesma, eu diria, pra ficar mais fácil de entender, embora tenha repetido matrizes narrativas. É do texto.. está no roteiro, mas ela vive agora sendo Psiquê contemporânea... ou Julieta...a Julieta dos dias atuais não optaria pela morte.. certamente não.

Maria Luiza: Mas então o quê? Segue como?

Dra Cardinale: Segue ‘pós-moderna’, se isto lhe diz alguma coisa, coerente com a mutação cósmica, atenta ao rumo e ao poder do Universo. Você viu a Malu hoje, em Caxias? Nada de tristeza. Ela comemorou em grande estilo a conquista, o fato de estar ali. É uma conquista profissional. Há muito ela queria isso. Depois, uma coisa é uma coisa. Outra coisa é outra coisa. Bem.. o mito não termina aí, embora este seja um ponto de finalização. Psiquê encara a sua verdade. Malu também.

Malu: Acho graça as duas filosofando sobre Psiquê, sobre os traços de Psiquê em Malu. Analisando, analisando... eu sigo vivendo, fazendo graça até mesmo da minha atrapalhação... quando ela surge...estratégia de sobrevivência básica: o humor. Conseguir rir de mim mesma já é um grande passo. Viram hoje? Vou me dar muito bem em Caxias. Me preparei para isso. Vou fazer o meu melhor! Me aguardem. Estou livre, leve e solta...estou feliz com a oportunidade.

Maria Luiza: Então não está triste?

Malu: Mas que obsessão! Pode ter certeza que não. Sou jornalista. A realidade é minha matéria. Gosto de enxergar claro o rumo do texto, os sujeitos das frases.. vivo aninhando as palavras para as pessoas. Preciso fazer isso pra mim também. “Cada um no seu cada qual’... como se diz. Quando faço uma pergunta, em uma entrevista ou na vida, estou preparada para a resposta. Antes de tudo, o que mais desejo é a resposta. Aí, apreendo os detalhes, os silêncios. Silêncio também é resposta, também é informação. Como eu sempre digo. A informação orienta, dá rumo, dá direção para as pessoas. E eu vivo disso, da informação inteira. Como vocês viram, meu primeiro dia de Caxias do Sul foi muito feliz! E vou fazer o possível para tornar felizes as pessoas a minha volta, com a qualidade do meu trabalho, a amorosidade pelo ser humano, com minha italianice a toda prova. Vou me dar bem, vocês vão ver....vou me dar bem!

Maria Luiza: Mas essa criatura, quando eu penso que ela vai desabar, ela salta como quem gira num samba, na ginga da brasilidade que também carrega, com orgulho, na força e graça italiana di ballare la tarantela.. e agora... ainda inventou de dançar flamenco! Durma com um barulho desses por dentro... risos....

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