segunda-feira, 25 de junho de 2012

Leoas e as emoções de sianinha

Maria Luiza: Ah... começou a semana bem! Emocionada com o trançado de flores de sianinha. Você não tem como ser admirada, dessa maneira! Emoções de flores de sianinha. Só você mesma!


Malu: Nossa, que mau humor! Não vejo nada de mais. Vejo, vejo o encanto das flores de sianinha. É um encanto múltiplo. De flores, que me lembram a fábrica de flores Santa Rita, onde cresci, aprendendo a trabalhar, lindamente produzindo flores. Você sabe, a fábrica da minha mãe. De trançados que aprendi com a minha avó, a costura, o cuidado com os panos de prato, as toalhas de crochê.

Maria Luiza: Sim, é óbvio que conheço a história! É a ‘nossa’ história, lembra? Você não é dona de todas as lembranças, nem das mais belas.

Malu: Meu Deus, mas o que foi? Está irritada assim por quê? As flores de sianinha te fizeram tão mal?

Maria Luiza: As flores de sianinha, o rosa degradê dos tons, tua pieguice derramada, até poemas declamou no evento da UCS. Assim, a semana começa no derramamento amoroso. Assim não é possível produzir em paz. Depois, tantas lembranças adiantam o quê? Temos uma vida imersa em um motor produtivo, que mais parece um moedor de carne, sendo que a carne...é a nossa. Produção é que precisamos. Dar conta do dia, dos ‘a-fazeres’. Olha aí que esse negócio de poesia é contagioso. Já estou, eu mesma, me lembrando dos teus poemas.

Malu: De que produção a senhora fala? Textos, artigos, revisões, orientações. Se observar bem o dia, vai ver que fiz tudo o que tinha que fazer e com qualidade. A questão é que, como sempre, acabei encontrando um tempo para o amor, para demonstrar o amor. O amor para com o homem dos olhos que nos meus olhos refletem minh’alma, para a amorosidade expressa no texto terno sobre as flores de sianinha e, depois, nas poesias declamadas no saguão do CETEL. Não necessariamente nesta ordem, risos. Tá, confesso que fiquei meio tímida, para declamar meus poemas.

Maria Luiza: Tímida nada. Ainda não vi tamanha habilidade para se expor, assim amorosamente derramada, ‘afetivamente afetada’, como dissemos na abertura da tese.

Malu: Prefiro a definição do Julinho da Adelaide. Ele disse que sou uma ‘cachoeira de poesia’. Gostei da definição. Uma cachoeira de poesia é um espetáculo. Quem dera eu fosse! Quem sabe um dia eu seja! E aí, então, em algum momento, minha escrita vai fazer sentido para as pessoas, vou levar mais amorosidade, ternura, substrato amoroso para as pessoas, o que parece ser minha ‘grande tarefa’.

Maria Luiza: Hum, a situação complicou. O Julinho deveria ter pensado no que poderia produzir. Você já é derramada por natureza. Se alguém apoiar, então, estamos perdidas. Vai passar o resto dos dias fazendo poesias.

Malu: Poesia só, não. Poiese. Autopoiese. Com o conceito esse, de autoprodução, eu encontrei uma ‘pista’, um caminho de reinvenção, aprendi a reconhecer a potência de fazer emergir de dentro de mim mesma, uma nova Malu, sempre que for preciso. Vivo às turras com a realidade, sofro, me emociono, amo intensamente, mas, independente do que aconteça, eu sigo.

Maria Luiza: Sim, eu sei como você segue. Segue, quando não empaca em alguma coisa, pela qual se apaixona.

Malu: Eu me apaixono, sim, mas estou mais na fase do amor do que da paixão. O amor, sim, este sim não passa. A paixão é vento. O amor é sustento, substrato amoroso. Eu não vivo de vento. O amor tem que ser alimentado, para sobreviver. Eu alimento o amor em que acredito, que me interessa, mas minha atitude pode mudar, mesmo diante de seres amados. Você sabe disso.

Dra Cardinale: Certo, certo, Malu. Também não precisa escavar feridas. Nós sabemos que você também sabe ser ‘pedreira’, se precisar lidar com ‘pedreiras’. Aprendeu na vivência com os filhos, em situações extremas na vida, mas sabe que a orientação é geral: ninguém pode te machucar. Nem o amor pode te machucar. Se tentar, está errado. Deve ficar longe. Precisa se afastar.

Malu: Pois então, doutora, é o que eu penso, mas é que a Maria Luiza adora me tomar para tonta. É como seu eu não soubesse o que faço, só porque sou amorosa, cuidadora, ternamente afetiva com as pessoas que me rodeiam e, principalmente, com quem amo.

Maria Luiza: Não é isso. Só acho que as pessoas que te conhecem, já conhecem o teu texto. Você não precisa ficar repetindo.

Malu: Meu texto não é retórica. Não é texto vazio. Meu texto é pleno de intensidade e verdade. Se alguém não acreditar, ironizar, esnobar, não ligar... meu texto não muda. Minha atitude pode mudar, mas o meu texto é escrito de dentro, de dentro de mim, de dentro do meu coração. Meu coração não vai mudar, minha pulsação não vai mudar. Eu posso calar, eu posso silenciar, eu posso me afastar, eu posso direcionar o texto para outros seres amorosos, mas não vou deixar de amar...

Maria Luiza: Mas é enjoada essa ‘discurseira’ sobre o amor... as pessoas se enjoam, se cansam...imagino que torcem o nariz, dizendo: lá vem aquela criatura falar de amor de novo.

Malu: Ah.. mas essa é impossível. Vou responder com um poema, pra tua indignação. Só que, no caso, é do nosso grande Drummond: “Que pode uma criatura, entre outras criaturas, senão, amar?”. De desamor, o mundo já está cheio. O que mais existe são atrapalhações, pessoas que se afastam, que não conseguem ficar juntas, se aproximar, mesmo diante de sentimentos fortes. Pessoas que ‘optam’ pelo afastamento, para não viverem complicações da vida amorosa quando as vidas se juntam. Então, decidem pelas complicações das vidas amorosas que não se realizam no laço, na convivência. Parece mais seguro. É mais seguro, mas, ao mesmo tempo, é uma condenação ao auto-abandono, às mares desejantes fúteis do cotidiano.

Dra Cardinale: Você não pode julgar. Cada um, cada um. Cada um decide o que é melhor pra si mesmo. Não há modelos, nem fórmulas prontas de felicidade. Cada pessoa tem que saber o que é melhor para si mesmo. É uma relação de custo-benefício. A vida está muito difícil. Todo mundo está tentando encontrar a sua maneira de ser feliz.

Malu: Bem, a senhora desculpe, mas os consultórios psiquiátricos estão cheios de gente tentando encontrar a maneira de ser feliz. Eles também movimentam a indústria farmacêutica, as seitas religiosas sem Deus, o mercado de consumo, com suas ‘satisfações substitutivas’. O desejo, na contemporaneidade, é amadurecido à força, como as frutas, que nós compramos na feira. Vem sem gosto. Desejo fast-food, forçado pelos instintos básicos ou pelo mercado de relações. Isso, pra mim, não serve. Eu já escrevi isso em outro lugar. Eu tenho dito que cheguei em um momento da vida em que vale a máxima: É tempo de errar menos. Penso que as pessoas têm que decidir que tipo de felicidade estão buscando. Eu sei o que busco.

Dra Cardinale: Neste exato momento, precisamos buscar a felicidade do sonho, ou melhor, dos sonhos. Precisamos ir dormir. É madrugada, mais uma vez. Em outra hora, conversamos mais.









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