Com o tempo, vamos entendendo que a narrativa da vida, a grande narrativa, vai acumulando fios na nossa existência e que nem sempre esses fios nos dão suporte para seguir adiante. Alguns, quando retomados, enroscam, enosam, viram ‘nós’ existenciais que incomodam, nos amarram ao passado e a alguma prática não agradável. Não valem a pena.
Eu sou do tempo do videocassete, um aparelho de gravação e reprodução de audiovisuais, que permitia avançar ou retroceder. Para retroceder, era preciso rebobinar a fita, o que nem sempre dava certo. Às vezes, quando a fita estava gasta, enroscava, travava. Era preciso abrir o videocassete, tirar a fita que estava toda enroscada ou até... arrebentada. Assim penso que ocorre com algumas histórias gastas na vida da gente. Mesmo sendo histórias com cenas bonitas, belos episódios, já conhecemos o desfecho ou, ao menos, a tendência. Elas nos roubam do cotidiano e aprisionam na tentativa, ilusão, de resgate, de retomada do sonho vivido, quando os momentos foram bons. Em vão. O passado está no passado. É o óbvio, mas nem sempre fácil de aceitar.
Aos poucos, a vida vai se tornando longa, as histórias muitas e repetidas. Puxar o fio da ‘memória’, consciente ou inconsciente, enredar, construir enredo, mirabolando novos desfechos é apenas arrogância de roteirista iniciante, que somos. Nos grandes desfechos da vida, temos pouca influência. Temos a nossa parte para fazer, mas isso é viver em cena, não roteirizar. O Roteirista é outro, neste caso, insubstituível. Faz-se, então, o possível e, mais que isso... o máximo que conseguimos para não decepcioná-lo. Venho, ao longo dessa vida (das outras também, imagino, mas isso não me lembro conscientemente), me debatendo para seguir a risca o texto, o ensinamento.
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