domingo, 8 de julho de 2012

Poética da existência e (des)ilusão


Eu me emociono com os textos que reviso, com as pessoas com as quais convivo, com quem trabalho, compartilho gargalhadas, tensões, risos, amizade, produção. Vou assim, sentindo as pessoas, tentando compreender e conviver, sempre e sempre mais. Desse modo, emocionadamente derramada, ‘afetivamente afetada’ pelos outros, eu vibro com suas conquistas e me enterneço com a poética das suas existências.

Foi assim essa semana, enquanto acompanhava a apresentação de orientandos meus de pesquisa, nas bancas. Eu sabia o que significava aquele momento, para cada um deles: o fechamento de um ciclo, o enfrentamento dos seus leões internos, os dramas familiares, a superação de sentenças condenatórias, proferidas por professores perversos, na infância, ou a sensação de impossibilidades, em função de uma origem humilde. Cada um deles, enfrentava, ali, seus maiores medos, em rituais aparentemente racionais, de apresentação de suas pesquisas 'científicas'.

E eu sempre, sempre, me sinto alguém muito privilegiada por acompanhar processos e momentos tão importantes para as pessoas. Estar ali, ter sido escolhida, por eles ou pela vida (a indicação de orientação às vezes é feita pelo aluno, às vezes pela circunstância), é algo que sinaliza uma história conjunta, partilhada, vivida e que vai marcar para sempre nossas existências. Estar junto na banca, não é pra qualquer um. Estar junto na banca é uma eleição pra vida toda. Estar junto na banca, como orientadora, é um laço que não se desfaz mais, permanece. Fica aqui minha declaração de amor profundo por todos os meus orientandos.

Ao mesmo tempo, acompanhar processos de aprendizagem tem me ajudado a ser mais paciente comigo e com minhas imperfeições (tantas!), tem me ajudado a me (des)culpar pelos meus erros (tantos); por algumas coisas que sei que não tenho como conseguir, as minhas impossibilidades (tantas!); pelas decisões que eu não tomei sozinha, mas que foram se mostrando, elas mesmas, como estrada já construída; decisões em tempo de solidão, mas que eu esperei que amadurecessem e, de alguma forma, elas se mostraram minhas companheiras. Quando vi, estavam ali, diante de mim, como opção única. Eu só tinha que seguir adiante. Eu vejo as pistas da sequência da ‘minha estrada’. Não são exatamente as que eu queria encontrar, mas isso também não importa mais. Vejo que estou aprendendo, com sofrimento e alegria, a ler os sinais e a aprimorar o olhar, assim como a não me debater contra o que tem que ser. Não adianta lutar contra o Universo. Ele soberanamente ESTÁ.

Em meio às decisões ‘que se decidiram por si’, eu vivo também as alegrias das emoções partilhadas, dos amores possíveis, dos afetos intensos com os seres que Deus se incumbiu de me presentear, tornar presentes no meu dia, na minha vida. Só que tudo, cada encontro, cada vivência, tem sido sob a ruína da idealização, sob a morte das fantasias de outro tempo. Meu olhar de hoje tem poética, tem encantamento, mas também tem (des)ilusão, no que isso pode ser compreendido como um bem. Da série, vivo ‘a vida como ela é’, as pessoas como são, os acontecimentos como eles verdadeiramente ocorrem... enfim.. o possível. Então, sigo, amorosamente... assim, um dia, também vou embora.

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