A urgência do tempo, em alguns sentidos, tem me conduzido a
refletir mais sobre, afinal, o que querem essas leoas em mim? Por que elas
brigam tanto? Que tempo é esse que ainda tenho, para viver às turras,
internamente, com os desassossegos tantos, entre essas ‘criaturas’ fiandeiras
do meu destino. Para quem não sabe, as leoas são minhas versões de garra e
luta, em diferentes instâncias da vida, de diferentes modos. Quem me conhece,
nem sempre conhece todas as leoas... Costumo dizer que cada um tem a leoa que conquistou.
Elas são, em certa medida (sem medida certa!) manhosas, dengosas, birrentas,
bravas (no sentido italiano de valentia e no sentido brasileiro de fúria, às
vezes. Em suma, melhor não provocar!). Claro, são também ternas, amorosas, sim,
muito amorosas. Isso, todas são. Cada
uma a sua maneira.
Há pouco tempo, tive um indicativo de diagnóstico – que não
se confirmou, após uma biópsia! – de uma doença grave, lenta e silenciosa,
dessas autoimunes. No caso, a explicação da tal doença dizia que, por motivos
desconhecidos, algumas células começavam a matar as outras ‘por engano’. Pensei
imediatamente nas brigas das leoas internas, a Maria Luiza, a Malu, a Luiza, a
italiana, com as tentativas, nem sempre bem sucedidas da Dra Cardinale, no
sentido de acalmá-las.
Apesar da situação nada boa, nem alentadora, comecei a achar certa graça da situação. Tantas vezes conversava comigo mesma e com minhas células e dizia... “Olha, vejam só, vocês se conhecem há tanto tempo! Vão começar a se matar agora?”. E, em seguida, imaginava as células ironizando: “ Ops, desculpe, te matei né? Desculpa, tá, fica aí mortinha!”. Com alguns amigos mais preocupados comigo, amigos chegados, que estão mais por perto no cotidiano, eu comentava isso, até como uma forma de descontrair. Não há porque se ‘pré-ocupar’, numa situação dessas. Penso que apenas devemos nos ocupar... fazer o que tem que ser feito, sem dramas, nem nada. Foi o que tentei, depois do impacto inicial da informação.
Apesar da situação nada boa, nem alentadora, comecei a achar certa graça da situação. Tantas vezes conversava comigo mesma e com minhas células e dizia... “Olha, vejam só, vocês se conhecem há tanto tempo! Vão começar a se matar agora?”. E, em seguida, imaginava as células ironizando: “ Ops, desculpe, te matei né? Desculpa, tá, fica aí mortinha!”. Com alguns amigos mais preocupados comigo, amigos chegados, que estão mais por perto no cotidiano, eu comentava isso, até como uma forma de descontrair. Não há porque se ‘pré-ocupar’, numa situação dessas. Penso que apenas devemos nos ocupar... fazer o que tem que ser feito, sem dramas, nem nada. Foi o que tentei, depois do impacto inicial da informação.
Enfim, a situação prolongou-se por praticamente um mês,
entre receber a informação de indicativo de diagnóstico e esperar o agendamento
de biópsia, fazer a biópsia, aguardar o resultado. Uff! Tudo isso fazendo tudo
que faço, em meio ao gerenciamento de uma família com cinco filhos, a vida nas
universidades UCS-UFAM, os orientandos, aulas, clientes de supervisão de textos
da Pazza Comunicazione, tudo urgente, tudo com prazo-lâmina, com eu costumo
chamar, tudo pedindo atenção, em um tempo em que eu precisei de tempo de
reflexão, para construir calma interna, até mesmo para abrir agendas para
consultas, exames, agendamento disso e daquilo. Eu, literalmente, não tenho
tempo (nem paciência!) para adoecer, nem para falecer. Lamento.
Foi tempo suficiente para compreender a grandiosidade da
vida e da velocidade do tempo em que ela passa. Também foi possível pensar o
que quero e o que não quero. Pensar que são verdadeiramente poucas as coisas
pelas quais devo brigar, ficar brava. Resolvi, eu mesma, finalmente, aderir à
campanha que lancei com meus filhos – também os filhos acadêmicos –
brincalhonamente, há tanto tempo, cujo slongan é: “Preserve Malu, antes que
acabe!”. Eu sempre argumentei: “Sim, há tantas campanhas ecológicas de
preservação de seres em extinção. Por que não eu?!”. Enfim, esse é um dos meus
traços, brincar comigo mesma, fazer graça, como alternativa, até porque pelo
que vivi, se não tivesse feito isso, não tinha aguentado.
Enfim, tudo isso me fez abrir um chamado interno para a
paz, a paz das leoas. Não. Não é nada
fácil. Nenhuma delas é ‘morna’, nenhuma é
simples. Cada uma delas representa um modo meu de levar a vida e todas
querem ter voz em mim, sendo que nem sempre suas vozes combinam. Geralmente não
combinam. Enfim, todos os acontecimentos recentes, as pressões e transformações
do cotidiano, resultaram na fala da doutora, no sentido de que, com o tempo
passando, já é tempo dessas leoas serenarem, cultivarem a paz, ainda que sem
concordância. Enfim, muita coisa não importa mais. Não vai dar tempo mesmo de
fazer tudo o que eu desejo, porque eu sempre desejei muito. É preciso aprender
a abrir mão do que desgasta, do que não rende calma, paz e alegria,
principalmente confiança amorosa. As leoas são a minha natureza. Com elas
convivi todo esse tempo. O encontro com a natureza, para mim, é sempre o
encontro com a matriz de força e, ao mesmo tempo, com a minha poética. Respeito
isso, sigo buscando respeitá-las, cada uma a sua maneira, fazendo graça com a
choraminguice da leoazinha Luiza, tendo paciência com a impetuosidade da Malu e
com a ranzinzices perfeccionistas da Maria Luiza, assim como dando espaço para
a intensidade vulcânica da italiana. Assim, diante de tudo e depois de tudo,
proponho um Tratado de Paz, entre elas... vamos ver quanto tempo dura!
Bem, pra quem não advinhou ainda quem está escrevendo, assino: Dra Cardinale.
Bem, pra quem não advinhou ainda quem está escrevendo, assino: Dra Cardinale.
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