sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

DEZEMBRO É UM MÊS QUE NÃO EXISTE..

Tenho me convencido, cada vez mais, de uma ‘tese’ que elaborei sobre o final de ano. Primeiro, percebi o que chamei de Síndrome de Outubro. Acontece o seguinte: quando chegamos em outubro desencadeia-se uma espécie de enlouquecimento coletivo, porque as pessoas se dão conta de que o ano acabou, mas o ano não acabou de fato. Para o ano acabar, falta pouco tempo e muita coisa planejada por fazer. Inicia-se um jogo de avaliação e, conseqüentemente, culpas em relação ao que se planejou fazer, nesses 365 dias. “Não vai dar tempo!”. É a constatação óbvia. Depois, vem novembro, que é um mês que nos encontra em alto mar, estilo “Navio Negreiro” (“Stamos em pleno mar”, do Castro Alves, lembram?). E, por fim, dezembro, definitivamente, é um mês que não existe... não há mais o que fazer e, ao mesmo tempo, há tanto, tanto pra fazer, antes que cheguem as festas e tudo recomece...

A aceleração do dia, o esforço de sobrevivência, o confronto com uma espécie de triturador de subjetividades são marcas da contemporaneidade. As pessoas se encontram com aspecto de exaustão, estampado nas faces. Não há como esconder que o dia é insuficiente para as tarefas que se interpõem. Ritmos intensos de existências, que se acumulam, atropelam, interpenetram-se, tentando garantir um final de ano (e, claro, um ano novo) feliz. Tudo tem que ser impecável, tudo tem que ser finalizado...ao mesmo tempo em que sabemos que muito do que nos assola não há como se resolver até 31 de dezembro. Paciência.

Acrescenta-se a esse quadro - e, provavelmente, é causa dele - uma explosão de sentimentos, um jogo perverso de lembranças de outros finais de anos. Aciona-se um balanço que não é apenas do ano que finda, mas da existência ela mesma. Fica ecoando, ainda que tentamos sufocá-la, a pergunta: “Afinal, o que eu fiz da vida até agora?”. Mais que isso: “O que eu posso fazer daqui para diante?”. É uma espécie de zunido interno que perpassa nossos sonhos, nossos níveis internos dia e noite. Questionamento pouco é bobagem. Reviram-se as nossas grandes questões, as nossas maiores marcas, as mais fundas... renascem os desejos antigos, sendo que alguns nos assombram e nos culpam por não tê-los alcançado. É como se disséssemos para nós mesmos que podíamos, se tivéssemos realmente nos empenhado, ter atingido realizações que sentimos como fundamentais para sentirmo-nos felizes.

Perco-me, às vezes, em meio à turbulência do dia-a-dia, eu mesma, na sensação de viver a ficção de um mês que não existe. Viver em um espaço outro, que não o da realidade. Sim, porque não são raros os momentos em que é impossível acreditar no cotidiano. Não há como crer nas construções, situações, com as quais nos deparamos. É mais fácil se ausentar... ver-se como se estivesse em uma vitrine, recusar de sentir-se em meio ao turbilhão. Opto, então, por aquietar-me, deixar passar esse tempo de turbulência e de rituais de finalização. Procuro não levar tão a sério o dia e a substituição de calendários e, assim, busco um pouco mais de serenidade para viver as festas e, principalmente, para me preparar para recomeçar.

Sinto que estou me reinventando nesse recomeço...
estou feliz com isso!
Na “Economia dos Desejos e da Felicidade”
Desejo investimentos promissores para 2011!

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