domingo, 1 de janeiro de 2017

Sobre inícios... e (re)inícios...

Gosto bastante de pensar em inícios, reinícios, desfechos, em finais que não terminam e em inícios que surgem do que já existia. Sim, porque nada começa do nada. Há sempre algo que antecede, ainda que esse ‘anterior’ seja de outra matéria, substância, jeito. Assim, penso que é preciso atenção aos processos, aos sinais de brotação e, também, paciência com o devir, o que deve vir a ser, porque ele decorre do que nós produzimos (ou foi produzido em nós) antes.

Em cada tempo, percebo sinais de entrelaçamentos com os tempos anteriores. Gosto de seguir as pistas, as trilhas do tempo e ver a vida de enredando, entrelaçando, assim, tecida pelas deusas internas, nossas ‘moiras’. A compreensão da roda da fortuna, que conheci no Tarô Mitológico, uma espécie de roda do destino, que vai sendo tecida pelas Moiras. Essa roda é responsável pelas grandes guinadas da vida. Com o contato com as Moiras, fiandeiras sábias que vão costurando os fios do destino com os das nossas ações vamos entendendo que é disso que resulta o devir, o futuro, o que virá a ser de nossos dias.

Assim, isso me lembra de uma de minhas falas clássicas, quase um ‘bordão’, em que digo que, apesar da beleza da infância, é preciso aprender a abrir mão de algo desse mundo: o fatalismo! Sim, porque a criança não tem noção do tempo. A relação entre tempo e espaço é algo que vai se construindo aos poucos. Desse modo, ela não compreende o ir e vir, as voltas que vida dá. Não sabe ainda a sequência de amanhãs e o quanto tudo é transitório e passível de ser alterado com gestos, movimentos, atitude (ato no todo).

A criança quer ir ao supermercado com a mãe e isso é uma questão existencial. Não ir, significa uma tragédia, uma perda aparentemente fatal. Agora, como lembrança, rio às vezes da cena, em que algum dos meus filhos se definhava em lágrimas, diante da negativa. Era como se eu partisse para sempre. Era como se o estivesse condenando à infelicidade perpétua. Eu sabia que não era, mas a cena era dura de viver, assim mesmo. Só o tempo me ensinou a respirar fundo, ver um filho ou filha se definhando em lágrimas e entender que, aquilo, aquela cena é que o(a) ajudaria a viver os devires, a compreender a ‘vida como ela é!’, nas suas nuanças, na sua mutação inerente.

Então, diferente da criança, o adulto (em geral) já aprendeu que a vida tem idas e vindas. A roda da vida gira, gira, gira, faz voltas e a gente reencontra, revive, repensa, reescreve a nossa própria história, aprendendo novos traços, acumulando saberes e sentimentos e compreendo que nada, absolutamente nada, é pra sempre. Uma das graças desse meu momento de vida é entender que uma variação nessa ideia é o amor. Sim, porque, se o amor também não é pra sempre no seu jeito, no seu modo de existir, quando ele floresce em nós é porque camadas profundas de afetividade foram acionadas. Essas camadas acionadas produziram um substrato denso, que jorra continuamente uma seiva que, ao mesmo tempo, realimenta e germina, gera substâncias que resultam intensidades abstratas, que desencadeiam todo o processo de novo. Assim, o amor se realimenta, se reinventa, de autopoietiza.

Gosto de saber isso. Gosto de compreender os entrelaçamentos do amor e que, feito bem feito, acionado o amor, ele permanece, ainda que não permaneça no mesmo estado. Vez por outra, o amor dá sinais claros que sempre esteve ali, mesmo que a vida mude, mesmo que a vida passe, mesmo que existam oceanos de distância entre seres e mundos de amores. O amor segue exalando sua potência e, na confiança amorosa, é sempre mais fácil ‘seguir viagem’, em amor, enamorada!

Assim, começo o ano sendo grata pelos amores na minha vida e me comprometendo a seguir viagem ‘a-mando’ do meu coração! 

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