Há
uma tendência importante na fala dos políticos contemporâneos. São tantos
absurdos, de tamanha magnitude, sendo verbalizados ao mesmo tempo, que eu começo
a pensar que é de propósito. Como se fosse uma estratégia narrativa de produção
de absurdidades, para, através das rajadas disparadas diariamente, ir
estonteando a população, que se debate comentando nas redes sociais, repercutindo,
argumentando que isso é mais absurdo que aquilo, e ainda mais que aquilo outro.
Vejo muita gente com ‘poeira nos olhos’ e com os ouvidos entupidos, com um
zumbido constante, que, ao que parece, vai demorar a passar.
Fico
pensando: assim fica difícil, a gente não dá conta de analisar, comentar, discutir,
tantas e tamanhas são as aberrações. E talvez essa seja a intenção. Enquanto
nos ‘distraímos’ com o bombardeio de destemperos verbais, frases inimagináveis,
impublicáveis em princípio (mas que acabam ocupando grande espaço midiático
exatamente por isso), são tomadas decisões diariamente, que estão transformando
tudo no pais e no mundo. Para pior, para muito pior.
Preocupa-me, então,
a possibilidade de estarmos diante de uma usina de barbaridades discursivas, ‘de
caso pensado’, para chamar a atenção, para fazer barulho, enquanto se produzem
outras, ainda mais importantes, narrativas. Eu costumo dizer: decisões também são
texto. E texto de caráter também gravíssimo, com consequências também
dramáticas. Assim, interessa-me saber e ver publicizado, também nas redes
sociais, na internet, quais documentos foram assinados, que decisões foram
tomadas, quais as ações efetivas a curto, médio e longo prazo. Percebam, há um
mar de asneiras ocupando um espaço gigantesco de discussão, enquanto a vida vai
se transformando drasticamente diante dos nossos olhos, aqui, na prática, no
dia a dia. Olhos cobertos de poeira; de lama, talvez fosse mais correto dizer.
Grandes mudanças vão
ficando submersas diante de frases de efeito tão grandioso, capazes de suplantar
ações também gigantescas, mas que se fazem encobrir pela lama narrativa que
predomina atualmente. Muito lixo, ao que me parece, muito lixo narrativo provocado,
para ocupar majestosos espaços midiáticos, enquanto na prática ações e mais
ações vão nos fazendo afundar em uma lama ainda mais profunda. Que ninguém se
engane, o mais dramático não é o que os políticos dizem, mas o que eles não
dizem, mas fazem, o que eles negam e continuam fazendo, o que eles justificam
com os absurdos que vão sendo impostos goela abaixo, de um país envolto em narrativas,
meio bêbado com personagens midiáticos aqui e ali, que mais parecem arcaicos
seres saídos de folhetins de épocas passadas. Tempos realmente difíceis.
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