domingo, 3 de julho de 2011

Família que consegue gargalhar unida...



Estou com a cena na retina. Ontem à noite, em meio ao jantar em família, por um motivo corriqueiro, desatamos todos a rir... a gargalhar. Lembro que, ao mesmo tempo que me soltava às gargalhadas, em função do ocorrido, olhava cada um dos meus filhos e conseguia pensar: “Meu Deus, que espetáculo! Minha família unida no desequilíbrio do riso!”. Vocês sabem, eu sou uma criatura reflexiva. Então, tudo que vivo me serve para amadurecer, pensar... saborear a intensidade dos significados, em busca do ‘sentido da vida’. Assim, também uma cena familiar corriqueira instiga a reflexão, possibilita a emoção da vivência... convida a pensar o que há, na cena, que me diz que estou em outro momento. Ao menos, agora também voltei a desequilibrar no riso, não só no choro.

As pessoas que me conhecem mais de perto sabem que vivi, nos últimos anos, duros momentos, desafios imensos, dores inenarráveis (puxa, que palavrão..dores impossíveis de narrar, eu quis dizer). Enfim, tudo tem seu preço e tudo passa. Tudo tem um motivo, para fazer crescer, amadurecer, embora, claro, no momento em que se vive, nem sempre a gente compreenda. Entendo hoje bem melhor os caminhos dessas tortuosas linhas da vida... rumos que eu não pensei... não quis, mas tive que trilhar. Já disse, mas vale repetir: sei que existe uma ‘escrita maior que tece nossos destinos’. Não importa o nome que se dê: é o movimento cósmico, que conspira e nos faz girar; é Deus impondo seu Grande Texto... O certo é que é maior que nós mesmos.

Eu tenho sido, é verdade, uma leoa, para enfrentar tudo isso. Às vezes, parece que vou esmorecer. Tantas vezes, eu caio aos prantos, mas quando vejo meus filhos assim, como vi ontem, às gargalhadas... quando me sinto também, enfim, imersa numa cena de desequilíbrio pela alegria... eu reconheço a imensidão dessa Força Maior agindo e permitindo tudo isso. Que alegria! Meus filhotes estão crescendo e, com eles, meus desafios. Mas tudo isso é muito bom! É intenso. A maternagem é um dos meus grandes exercícios e sustentos existenciais.

O motivo das gargalhadas não importa muito. Era algo do grupo familiar. Às vezes, para alguém de fora não faz sentido, pelo menos não o sentido que faz pra nós. A graça toda vem do quanto nos conhecemos e nos misturamos. Há textos intuídos, submersos na rede de afetos que nos une. Olhares que desencadeiam frases internas, discursos antigos que nos produzem e constituem. É lindo isso! Nas famílias, há ‘cacos’ de frases, pedaços soltos que nos provocam pensamentos similares, lembranças de outras vivências. Isso vai nos amarrando numa trama de afetos pra vida inteira, nos fazendo parecidos em uma série de aspectos. E permitindo que nos reconheçamos, nas diferenças. Ainda: construindo o respeito por essas diferenças. Respeito e amor profundo, imenso, pra sempre.

Assim, os ‘filhos da Malu’ têm um vocabulário comum. Eles também se unem para ‘falar de mim’, como a ‘grande chefe do clã’, para tentar subverter o meu poder, para brincar com meus jeitos e trejeitos, minhas manias e frases prontas: “É o final dos tempos! O mundo acabou e esqueceram de me avisar? Tá se comparaaando a mim?”. Eles repetem as frases, zombando de uma prática de quem se esforça para botar ordem no grupo. Sabem que eu me debato, na vida, para fazê-los pessoas do bem, que sou cheia de defeitos, mas amorosamente esforçada. Eles também têm a segurança do meu afeto, o que permite brincar, às vezes – nem sempre, porque a italiana aqui é também uma fera, uma leoa. Mais que ninguém, eles também sabem disso, com certeza.

É engraçado... Uma pessoa como eu estudar tanto coisas de Psicologia da Comunicação e, depois, vivenciar todas na pele...Nem sempre é engraçado, mas ontem foi. Muito.

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