sábado, 16 de julho de 2011

Cinderela! Cinderela! Mas que mundo mesmo é o dela?


Gosto de escrever. Mais ainda de escrever sobre o que me emociona. O Grupo Gaia me emociona. Muito. É um grupo de dança de Porto Alegre, mas não é apenas um grupo de dança, o que já, por si só, significa muito. O Grupo Gaia é um grupo de pessoas densas, intensas, que põem na dança a expressão humana em movimento. O nome do grupo é sugestivo. Um grupo que se chama Gaia teria que ser assim, avassalador, como eles se mostraram, mais uma vez, hoje à noite, no espetáculo Cinderela Fashion Week!

Muitas coisas me encantam nesse grupo: a capacidade de reunir técnica e conceito, a aproximação das diferenças, a grandiosidade da expressão, o contágio de ‘afectos’ que se acionam quando ‘eles’ estão em cena. É sempre um gozo, uma alegria...vê-los voar ou calar...É interessante que, ainda quando ensimesmam e encarnam a densidade emocional tensa dos nossos dias, eles conseguem mobilizar, em nós, o prazer estético e nos fazem entrar em contato com sentimentos doídos ‘em estado de arte’. Então, porque - e só porque - ‘em estado de arte’... tratam até mesmo a substância que os faz existir.

Na passarela do Espetáculo Cinderela Fashion Week, diferentes subjetividades se expressam contrastantes. São ritmos e velocidades, alternando-se a exemplo das cenas contemporâneas das cidades. A convivência dos contrastes. A mutação constante. A fragmentação exacerbada que faz do sujeito ser dançante, convidado, o tempo todo, a ‘dar a volta por cima’. São cenas que também contemplam o sujeito fera, o ser que rasteja, que gira em si mesmo para se reinventar. Cinderela Fashion Week... na memória, cenas se misturam e fazem brotar os múltiplos caminhos internos acionados pelo, literalmente, ‘e-s-p-e-t-á-c-u-l-o’!!!!

Durante a apresentação, desfilam também diferentes humores, na caosmose pos-moderna de rupturas muitas. Humor, graça, riso, choro. O convívio entre o velho e o novo. Em meio à turbulência, a caixinha de música... os conflitos, os diferentes modos de amar, o abandono dos modelos cristalizados, o ato de despir-se, abandonar as máscaras e retomar as máscaras. Na convivência caótica, às vezes, retoma-se a repetição neurótica e, de repente, tudo se transforma em voo existencial, físico, na alma... a dança, em nós, também remexe as cinderelas internas, arcaicas, contemporâneas, na mescla das demandas cotidianas, tantas.

Depois... assim.. agora.. resta agradecer..o espetáculo tem uma potência mobilizadora de afetos que se destaca, nas produções contemporâneas que conheço. Sabedoria e alegria em corpo, movimento e pensamento. Adorei!

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