sábado, 8 de maio de 2010

EU SOU MÃE MALU-A

EU SOU MÃE.
EEEEUUUU SOOOUUUU MÃÃÃAAEEEE.
Euzinha, Dona Maria Luiza Cardinale Baptista,
tive a Graça Divina de, depois de quase 10 anos implorando a Deus... conseguir ser quatro vezes mãe.
Meu Deus, como eu sou feliz só de pensar isso!

Giulia, Pietro, Giuseppe e Chiara. Os quatro têm nomes italianos, para honrar minhas origens. Provavelmente, é da minha italianidade que vem esse traço de maternagem explícita, que me fez lutar contra um diagnóstico médico. Durante o tempo que passei tentando engravidar, o médico me dizia: “Maria Luiza, no teu caso, só um milagre”. Ele me explicava, pacientemente, as características da endometriose, uma doença que impede a gravidez, e lembrava que a minha possibilidade era mínima, porque os focos de endometriose eram muitos e severos... Ele chegou a sugerir que eu tentasse algum desses métodos novos, mais artificiais... Sua fala era clara e firme, sem deixar margens de dúvidas. Todas as vezes eu me entristecia muito, sofria muito com a explicação, mas, ao final, respondia: “Tudo bem, mas eu vou engravidar, pelo método convencional. É só uma questão de tempo.” Ele balançava a cabeça, como quem diz: “Ô italiana cabeça dura essa. Será que ela não vê que não adianta?”

Meu médico é uma sumidade no assunto. Doutor Francisco Cancian. Daqueles dedicados, obstinados, que visivelmente nasceram para o que fazem. Não havia dúvida. Estava sendo preciso no que dizia. Sabia o que estava falando. Ele demonstrava isso também, quando comentava os exames que denotavam o avanço da doença. Endometriose. A palavra soava para mim como uma sentença que eu não aceitava, que eu me negava a aceitar, porque havia, dentro de mim, uma outra verdade, um desejo do tamanho do mundo, de que um dia, alguém, um pequeno sujeito humano me olharia nos olhos e me diria a ‘palavra mágica’: mãe. Meu Deus, como seria possível, com tanto amor dentro de mim, não ter para quem entregar?

Eu olhava as mães nas ruas, nos parques, andando de mãos dadas com seus filhos. Outras vezes, elas os tinham no colo, soltos, entregues à segurança do abraço materno. Eram cenas de encantamento, diante da mágica do laço de afeto que une mães e filhos. Um afeto de intensidade imensa, assim como eu sempre soube produzir. Um jeito de se entregar pro outro, derramadamente, como eu sempre desejei, sem medo, sem reservas, só amar... assim como tem que ser. Ser mãe. Era isso o que eu queria e que o tal do diagnóstico dizia não ser possível.

O diagnóstico estava certo, bem feito, mas também era verdade minha determinação e a proporção gigantesca do meu desejo. Então, eu implorei a Deus, eu me debati, durante anos, fiz tudo o que havia para ser feito, exames, tratamentos. Foram muitas cenas duras vividas, de decepção diante da ilusão de estar grávida. Muitos exames negativos abertos com esperança. Muita lágrima. Muito choro, muito, muito, mas muito mesmo.

Essa realidade se transformou, quando entendi que havia uma condição que eu já vivia, que me dava imenso prazer e que se aproximava da experiência da maternidade. Era a relação com meus alunos. Eu sei, há diferenças, mas o processo de aprendizagem também é de extremo acolhimento e cuidado. Assim como na maternidade, somos desafiados a aprender a ‘dar colo’, sabendo que o colo é o que acolhe, protege, mas também limita. Delineia limites de ação, ao mesmo tempo em que, por isso mesmo, oferece a segurança. Colo protege e prende e, em seguida, quem dá colo tem que aprender a ver o outro se soltar, deixar ir, para vê-lo engatinhar, depois trôpego, dar os primeiros passos, levantar, cair, machucar-se, levantar. Aí olhar para trás e sorrir. Saber que mãe está ali, está aqui. Eu quis muito, durante muito tempo, esse lugar, ser esse ‘porto seguro’, essa ponte para o mundo, esse colo desejado, esse eu buscado, como quem diz: ‘Me dá o ar de novo? Me ensina a chorar e a rir do nada, pra nada... por nada. Só por estar junto. Só por te saber existir”.

Ao longo do tempo, eu fui lembrando cenas com os alunos. A alegria de vê-los ‘crescendo’ na profissão, avançando, transformando-se no processo de aprendizagem. Cada um a sua maneira, eles foram me ensinando, me transformando também. Vocês não têm noção a quantidade de recordações que tenho. Cenas singelas, momentos intensos, engraçados, difíceis, de necessidade de superação minha e de meus alunos. Sinto desejo, a essa altura dos acontecimentos, de relatar um pouco desses encontros vividos. Vou fazer isso nos próximos textos. Recortes de cenas da minha paixão pelos alunos...vêm aí.. aguardem!

Por hoje, venho agradecer aos meus alunos, por terem me ensinado que eu podia ser mãe, independente do diagnóstico. Eu aprendi que podia ser mãe, quando me dei conta que a relação que tinha com com eles já era uma maternagem, à italiana, meio dura, severa, exigente, mas uma maternagem. Foram, então, meus alunos que me ensinaram que eu podia ser uma mãe adotiva, que, se eu desejava, tanto assim, como eu desejava, ser mãe, eu poderia optar pela adoção, como uma possibilidade de concretização. Meu irmão, Toninho, que vive em Bolonha, Itália, também me disse, uma vez: “Cada um tem que decifrar seu próprio enigma. Este é o seu. Se você quer ser mãe mesmo, seja, do jeito que é possível ser”. Eu ouvi isso na minha viagem para a Itália. Quando voltei para o Brasil, decidi que ia adotar uma criança.

Adotei minha primeira filha, a Giulia, em 1996. Depois, em 1999, adotei o Pietro e o Giuseppe. Por fim, no ano de 2000, de volta de uma viagem a Cuba, onde fui apresentar dois trabalhos no ICOM, um encontro internacional de Comunicação, da Universidade de Havana, descobri que estava grávida – biologicamente grávida - de dois meses. Em 2001, nasceu a Chiara.

Hoje sou assim mãe Malu, com direito a pagar todos os micos, chorar em todos os espetáculos de dança da Giulia e até quando ela apenas comenta que vai fazer 15 anos em 2011. Do alto dessa minha maternagem ‘Maluca’, eu posso viver a alegria de ver a Chiara e o Peppe correndo na Unisinos, inventando brincadeiras, felizes, e me emocionar com a sofisticação da linguagem dos dois. Como diria o Peppe (10 anos): ‘metaforicamente falando’...ou a Chiara (8 anos): ‘Eu sei que o que eu disse é meio exótico’... Tão importante quanto tudo isso é o encontro intenso com o olhar do Pietro, minha ‘pedra preciosa’. Estamos mais próximos, estamos reinventando o caminho... Quando atendo o seu chamado e ouço seu canto, do seu jeito menino, me dizendo sorrindo: “Eu conto as horas pra poder te ver, mas o relógio está de mal comigo...”...eu sinto uma paz imensa dentro de mim e a concretização plena do meu sonho sonhado...eu sinto que tudo tem valido a pena, porque EU SOU MÃE. Obrigada Deus. Obrigada meus filhos. Obrigada meus alunos.

4 comentários:

  1. Feliz dia das mães, Malu!

    Meu desejo é tão intenso como o teu. Um dia também vou dizer SOU MÃE!
    É como eu digo para minha esposa: "seja da minha barriga, da tua ou através de uma adoção, a Ana Laura ou Edu virão" =D

    Acho tão linda tua história e realmente me emociono quando vejo foto dos teus filhos. Lembro-me da Chiara e da Giulia, quando elas foram em uma aula sua de Psicologia da Comunicação, em meados de 2004. U
    Um encanto!


    Um super beijo pra ti e para todos os teus tesouros:
    O misterioso com olhos de jaboticaba Pietro; o charmoso e conquistador Peppe; a graciosa Giulia e a terna e esperta Chiara.

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  2. "Para uma determinação justa, nada é impossível". Segue em busca do teu sonho. Beijo grande, Malu

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