segunda-feira, 16 de julho de 2018

Madrugada no Solar


Meus olhos se acenderam de madrugada, mais uma vez, no Solar Cardinale. No mesmo horário, aquele, em que eu acordei outras vezes: 3:34. Curioso fenômeno esse, de ser acordada num horário preciso, em datas tão diferentes. Eu fui dormir cedo, talvez tenha sido isso, mas, de qualquer forma, é curioso acordar 3:34, como das outras vezes. Talvez seja um horário espiritual, alguma conexão maior. A questão é que, quando acontece isso, eu acordo plenamente.  Do verbo: acordar... a-cor-dar, como gosto. Acordar quando os olhos abrem, sem que um despertador toque. Acordar por mim mesma, desperta, sem sono.

No pensamento, os amores maiores. Reviso cada um deles, os filhos e o amor da vida ‘aquele’. Revejo-os no seu riso, no seu jeito comigo. Imagino-os dormindo e espero que o sono seja calmo, que os sonhos sejam bons e alegres, que o descanso da noite ajude a serenar as emoções e recobrar as forças para a vida, para o dia que vem logo. Aos poucos, os ‘a-faz-eres’ também começam a se fazer presentes, como provocações. Eu sei, eu sei, eu sempre tenho tanto para fazer, porque fiz assim a vida, plena, entrelaçada entre seres e projetos, entre flores e seres, como eu costumo dizer. Gosto que seja assim, embora pense, às vezes, que eu tenho que cuidar essa minha fome de vida, a metralhadora de desejos e minha tendência a disparar invencionices e engendramentos de novas e novas e novas desterritorializações – ações constantes de sair do território existencial, mudar, movimentar, produzir movimento. Por outro lado, penso o que pode um ser cigano como eu, senão produzir movimento, acionar mutações, em mim, na casa, na vida, nos projetos, nos outros? Já entendi que a vida se refaz assim, se renova, se faz de novo. Assim tem sido.

Movimentos de amorosidade. Sim, cada um deve saber a que veio nessa vida. Eu vim assim, amorosa sem conta, plena de desejo de ‘inventar’, desejo de criação, de inscriacionices e movimentos que me levem ao coração das pessoas, aos lugares distantes que tanto sonhei, aos territórios secretos dos sentimentos dos seres que amo. Talvez por isso seja cientista, envolvida especialmente com Comunicação, Subjetividade e Turismo. Desejo de viajar nos caminhos do coração, dos mundos em que há seres que me querem, de me fazer presente na lembrança, como ser amoroso, como ser-flor, como campo de margaridas, como lugar calmo na vida, porto seguro para quem quer aportar e ficar junto, um tempo, o tempo possível nessa vida de Meu Deus!

Gosto do que vivo, nos encontros da vida, na graça de entrelaçamento com as pessoas. Gosto de estar sozinha também, ainda que a sensação seja de não estar só, mas nutrida de afetos tantos, dos fluxos intensos com quem me envolvo. Lembro do Drummond, que diz, em um dos seus poemas mais lindos, que “a ausência é um estar em mim, e sinto-a branca, tão pegada, aconchegada em meus braços, que essa ausência assimilada, ninguém rouba mais de mim.”.  Essa condição de estar em mim, me faz sentir, ainda, aqui, de madrugada, a conexão com os seres com quem me sinto mais envolvida, na vida, em envolvimentos de diferentes modos. Sou grata.


Nenhum comentário:

Postar um comentário