Meus olhos se acenderam de madrugada, mais uma vez, no Solar
Cardinale. No mesmo horário, aquele, em que eu acordei outras vezes: 3:34.
Curioso fenômeno esse, de ser acordada num horário preciso, em datas tão
diferentes. Eu fui dormir cedo, talvez tenha sido isso, mas, de qualquer forma,
é curioso acordar 3:34, como das outras vezes. Talvez seja um horário
espiritual, alguma conexão maior. A questão é que, quando acontece isso, eu
acordo plenamente. Do verbo: acordar...
a-cor-dar, como gosto. Acordar quando os olhos abrem, sem que um despertador
toque. Acordar por mim mesma, desperta, sem sono.
No pensamento, os amores maiores. Reviso cada um deles, os
filhos e o amor da vida ‘aquele’. Revejo-os no seu riso, no seu jeito comigo.
Imagino-os dormindo e espero que o sono seja calmo, que os sonhos sejam bons e
alegres, que o descanso da noite ajude a serenar as emoções e recobrar as
forças para a vida, para o dia que vem logo. Aos poucos, os ‘a-faz-eres’ também
começam a se fazer presentes, como provocações. Eu sei, eu sei, eu sempre tenho
tanto para fazer, porque fiz assim a vida, plena, entrelaçada entre seres e
projetos, entre flores e seres, como eu costumo dizer. Gosto que seja assim,
embora pense, às vezes, que eu tenho que cuidar essa minha fome de vida, a
metralhadora de desejos e minha tendência a disparar invencionices e
engendramentos de novas e novas e novas desterritorializações – ações constantes
de sair do território existencial, mudar, movimentar, produzir movimento. Por
outro lado, penso o que pode um ser cigano como eu, senão produzir movimento,
acionar mutações, em mim, na casa, na vida, nos projetos, nos outros? Já
entendi que a vida se refaz assim, se renova, se faz de novo. Assim tem sido.
Movimentos de amorosidade. Sim, cada um deve saber a que
veio nessa vida. Eu vim assim, amorosa sem conta, plena de desejo de ‘inventar’,
desejo de criação, de inscriacionices e movimentos que me levem ao coração das
pessoas, aos lugares distantes que tanto sonhei, aos territórios secretos dos
sentimentos dos seres que amo. Talvez por isso seja cientista, envolvida
especialmente com Comunicação, Subjetividade e Turismo. Desejo de viajar nos
caminhos do coração, dos mundos em que há seres que me querem, de me fazer
presente na lembrança, como ser amoroso, como ser-flor, como campo de
margaridas, como lugar calmo na vida, porto seguro para quem quer aportar e
ficar junto, um tempo, o tempo possível nessa vida de Meu Deus!
Gosto do que vivo, nos encontros da vida, na graça de
entrelaçamento com as pessoas. Gosto de estar sozinha também, ainda que a
sensação seja de não estar só, mas nutrida de afetos tantos, dos fluxos
intensos com quem me envolvo. Lembro do Drummond, que diz, em um dos seus
poemas mais lindos, que “a ausência é um estar em mim, e sinto-a branca, tão
pegada, aconchegada em meus braços, que essa ausência assimilada, ninguém rouba
mais de mim.”. Essa condição de estar em
mim, me faz sentir, ainda, aqui, de madrugada, a conexão com os seres com quem
me sinto mais envolvida, na vida, em envolvimentos de diferentes modos. Sou
grata.
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