Gosto de samba, gosto da Marrom (a Alcione)! Dia desses, o refrão de uma canção que ela canta me ‘brotou por dentro’ e eu fui
atrás da música! Coração de Porcelana! E eu fiquei refletindo sobre a ideia...
coração de porcelana! Durante muito tempo, eu mesma pensei que meu coração
fosse de porcelana, delicado, frágil, fácil de quebrar. Pra minha alegria, a
vida me ensinou que meu coração está bem longe de ser porcelana! É um coração grande
e forte! Coração composto de fibra italiana com densos entrelaçamentos de
amorosidade e brotações constantes, de mais e mais amor, mas isso não tem nada
de fragilidade e tampouco representa risco de se (me) quebrar!
Em meu coração mescla-se o fluxo de sangue quente, a
pulsação de gente que se reinventa a cada instante, a cada respiração, a cada
pulsação. Gente que sobreviveu à guerra e atravessou oceanos, em busca de
sonhos e de uma vida melhor. Há densidade e intensidade, nas batidas e nos
modos de ‘dar passagem’ para novos fluxos, novos processos de reinvenção de
vida. Assim, sinto hoje no peito um coração que sabe ser sereno e intenso ao
mesmo tempo. Ele se nutre todos os dias da confiança amorosa, dos amores
conquistados com o tempo, com laços profundos e entrelaços abstratos de energia!
Eu sei o que fomos, eu sei o que somos e, assim, mesclados e entrelaçados no
peito, sei que vidas se entrecruzaram e semearam devires. Cumpriram a sina de vidas 'en-a-mor'!
Fiquei pensando que a música é bonita, sensível,
amorosa, mas romântica demais, no sentido do sofrimento amoroso, que não é
minha opção no cultivo do amor. O refrão diz: “Onde andará?/ Que paixões terá?/
Quando voltará?/ Ou me esquecerá”, com uma deliciosa e dengosa melodia da
Marrom. Esse chamamento, acredito, brotou em mim, pela lembrança de um amor
antigo, que permanece na lembrança e vez por outra surge como uma nuvem de
intensidade amorosa, que transita em mim, que se mistura com a imagem da cena
cotidiana! Numa dança de memória, o encontro com essa ‘névoa amorosa’, me traz
a sensação de graça e emoção alegre. É bom que tudo tenha sido vivido! Resta em
mim o agradecimento pelo bem da vida, pelo que pôde e pode ser vivido. Se, como
nos ensina Emmanuel, tudo é impermanência, que os instantes de amor vividos
sejam a nossa constante, na lembrança, na vivência, no sentimento! Assim tem
sido comigo, assim tenho vivido amorosamente!
Hoje reconheço meu coração como um feixe-trama de
entrelaçamentos amorosos de grande consistência. São florações entrelaçadas, em
um substrato fértil e pleno de húmus da vida! Deste coração, florescem sempre
(até quando o Moço da Parede permitir!), com viço, novas possibilidades. Aqui são
cultivados os floresceres que se tornaram possíveis e se mantêm plenos, também
cultivados por outros seres que me amaram (que me amam!). Sou realmente muito
grata, especialmente porque nessa complexa teia-trama da vida, a amorosidade se
renova, longe da idealização. O amor é cultivo compartilhado, como quem cuida
da floração e das sementes semeadas para gerar o fruto mais saboroso que
existe! É bom se saber ‘en-a-morada’! Este, literalmente, é o meu território e a minha matriz existencial!
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