domingo, 7 de outubro de 2012

A CASA DOS MEUS SONHOS


Tenho pensado muito na grandiosidade do significado de ‘casa’ pra mim, significado das minhas casas, das casas que tenho e das casas que tive, das casas que sonho, também, da ‘casa dos meus sonhos’. Diferente da maioria das pessoas, quando penso na expressão ‘casa dos meus sonhos, a imagem que me vem à mente é a da casa dos meus avós, que também foi a minha casa, quando eu era criança. A casa dos meus sonhos, a casa onde eu sonhei meus sonhos de menina, aqueles que têm o substrato de sonhadora maior, a base da leozinha Luiza, amorosa de nascença, apaixonada por jabuticabas e encantada pelo mundo.

Recentemente visitei Guarantã, a cidade onde nasci, e como faço todas as vezes em que vou à cidade, também desta vez dediquei um tempo para visitar ‘a casa’. Meus avós não estão mais lá. Faleceram há vários anos. Eu estava longe, quando isso aconteceu. Tenho, no entanto, em mim, lembranças inteiras, imensas, que marcaram a infância e que foram o palco da construção dos sonhos deste ser eu mesma, que agora escreve. Ali, naquela casa, nas madrugadas em que passava lendo, eu imagina o devir, o que deveria ser minha vida. Na casa simples, de madeira, que hoje está desabitada e vai ser reformada, eu aprendi a valorizar cada canto, cada espaço, aprendi a sonhar. Ali eu sonhei que seria escritora um dia, que viveria escrevendo, criando personagens, dedicando a vida a escrever e a ensinar. Ali eu produzi minhas inscrições ficcionais iniciais, escrevi poemas e li, li muito, quase que na mesma proporção com que imaginei o futuro. Futuro de um eu Luiza, que se formava enquanto tentava compreender o mundo, encerava o chão da casa pra vó, aprendia a bordar, fazer crochê, trançar barra de pano de prato e, nas madrugadas, lia e escrevia.

Na frente da casa, havia um jardim. Claro, no jardim, havia margaridas brancas, que floridas enterneciam a vida. Havia também rosas, dálias, palmas de Santa Rita, flores do campo e outras que não sei o nome. Lembro, em especial, das brincadeiras em meio a essas flores, com um dos meus irmãos, o Toninho. Durante um bom tempo, minha vó cultivou o jardim e se ocupava de acompanhar a brotação. Explicava a diferença das flores, o tempo de brotação, o modo de cultivo e renovação de cada uma delas. Eu me inquietava com o fato de que alguns canteiros não ficassem floridos o tempo todo. “Seria mais bonito, se tivéssemos flores o tempo todo”, eu pensava. Minha vó, pacientemente, explicava que não era assim, que as flores precisam brotar de novo, que teríamos que esperar, que ainda não era tempo. Eu aceitava, mas preferia que fosse diferente. Hoje percebo que o ‘tempo de brotação’, a espera, o tempo da florada, depois, a alegria da presença das flores abertas, exuberantemente encantadoras... tudo isso faz parte dos ciclos da vida e também ensina a compreender outras esperas, outros processos de semear e esperar, semear e esperar... semear, cuidar e esperar a brotação. Paciência para, um dia, ver a florada. Esta parece ser a ‘mensagem’.

Nessa casa, eu sonhava com meu futuro amoroso e já tinha claro que o amor é o bem maior, que o amor seria sempre a minha opção, meu motor existencial pra vida toda. Era uma visão pueril, ingênua, ainda romântica. Hoje estou bem diferente disso, mas ainda conservo o traço da amorosidade, em sentido amplo. Ainda acredito em fadas, duendes e outros seres do mundo abstrato, mas do amor romântico quero distância. A maior possível. O amor romântico é pautado pela idealização do Outro e isso é construção antecipada de decepção. Não há quem dê conta da idealização, porque ela tem componentes de ilusão e fantasia, que não combinam com vida real. O Amor existe, sim, mas também tem que ser cultivado todos os dias, tem diferentes tipos de brotação e tempos. Também não há possibilidade nenhuma de controle. O amor é da natureza. É ‘a’ natureza em nós. Vai brotar, ou não, na mistura de substâncias várias, no encontro de laços de afeto e onde houver terreno propício para a brotação. Se não brotar, não é culpa de ninguém. Não é uma sentença de impossibilidade, apenas uma confluência de fatores que fizeram não acontecer ‘ainda’. Não há que se preocupar exageradamente, porque o dia anoitece, depois amanhece, depois, como acontecia no jardim da vó Zefa, tudo começa a brotar de novo, tudo pode ser. Então, de novo haverá margaridas brancas e bem-quereres. Assim é.


















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