segunda-feira, 16 de julho de 2012

Leoas em tempo de mudanças!



Maria Luiza: Hum... começou o texto escrevendo o título, essa é nova. Você sempre põe o título depois... define o título à medida em que vamos conversando.

Malu: Mas a senhora é implicante mesmo! Quando estou tranquila, resolve se implicar com um título, um adereço existencial qualquer, já que não tem do que reclamar. Os tempos estão calmos.

Maria Luiza: Os tempos estão calmos? Jura? Só se for pra você! Quer dizer: como assim calmos? Você tem noção o que está dizendo, ainda mais depois dos últimos acontecimentos?

Malu: Calma, dona Maria Luiza. Não estou falando de calma externa. Nesse sentido, não há calma. Há muita coisa acontecendo, muita turbulência, sinalizando mudanças. Por isso, inclusive, o título já estava claro. Estou falando de calma interior. Calma em mim. Lá dentro. É uma calma... serena...em meio à confusão, entende?

Maria Luiza: Em tese, entendo. Só não vejo calma em muitas situações do dia a dia. Às vezes, você parece mais Maluca que nunca. Exaspera. Fica furiosa. Briga, sapateia. Atrapalha-se com coisas pequenas, até pra sair de casa, às vezes fica se debatendo, feito borboleta presa na vidraça.

Malu: Sou uma pessoa comum, simples, bem longe da perfeição, como a senhora faz tanta questão de frisar. É verdade. Sou atrapalhada, três vezes por dia, pelo menos. Mas estou falando de uma calma maior, nas grandes orientações da vida.

Maria Luiza: Hum, as grandes orientações da vida! Que bonito isso! Agora você está se achando uma filósofa da existência, que humilde!

Malu: Ai, meu Deus! Olha a ironia... eu já estou rodeada de gente irônica.

Maria Luiza: Não estou ironizando, eu sei o que você está falando, claro, mas pode parecer pedante, pode parecer presunção. Tem que se cuidar.

Malu: Mas por quê? É exatamente isso que estou falando... as grandes orientações da vida. A essas alturas da vida, eu tenho que ter encontrado pistas nesse sentido; se não, estaria perdida. Sou uma pessoa quase idosa. Somos. Não há como ser sozinha, enfrentando o que enfrento... sem orientações internas. Mas por quem me tomas, Senhora Meu Eu Senhora? Ah.. tá, lembrei, a senhora acha que sou uma louca desvairada, sem limites, nem consideração com as consequências.... entendi.

Maria Luiza: Você sabe, não estamos mais sozinhas.

Malu: Bem, isso é uma questão semântica, do significado de ‘sozinha’.

Maria Luiza: Não, não é. Fez-se uma rede de afeto. Há substrato amoroso em laços, em vínculos que são, sim, duradouros...vivemos o gosto da transformação do amor, de uma compreensão do amor, em sua plenitude. Isso não tem nada a ver com arroubos de adolescência, mas com um bem-querer-bem nosso bem-querer. Isso, por si só, já é companhia, isso já é sentir-se em sintonia...

Malu: Não vamos falar disso. A senhora não entende.

Maria Luiza: Percebe que estamos trocando os discursos?

Malu: Sim, percebo. Ainda não entendo bem como pode, mas percebo.

Maria Luiza: Pode, porque o que vivemos é algo amadurecido em nós. Ainda não sabemos o destino dessa ‘prosa’. Não sabemos o que exatamente está sendo escrito, narrado ou vivido. Apenas sabemos que é algo diferente de uma condição anterior. É um jeito de amar dos tempos de agora.

Dra Cardinale: Talvez esteja exatamente aí a tal da calma a que a Malu se refere. Essa orientação maior para a vida. O que acontece é o amadurecimento da condição amorosa, em nós. Aprender a saborear a amorosidade, sem exasperação, sem desespero apaixonado e exigente disso e aquilo, sem atropelo, sem cobrança de desfecho, sem urgência. O bom do amor consolidado em nós. Assim também é com a compreensão dos desfechos da vida, das decisões que precisam ser tomadas. Elas vão surgindo, como clareiras que se abrem à nossa frente, sem que precisemos fazer grande alarde, nem nos envolver com ‘pré-ocupações’. Quando vemos, elas se mostram, se insinuam, como quem diz: “vamos, é só dar o passo”. Assim o caminho e a decisão se fizeram... evidentes, marcados pela obviedade.

Malu: Bem, eu de minha parte já desisti de tomar as rédeas. Passei muito tempo pensando que podia decidir, que podia interferir, que podia isso ou aquilo.Depois, passei muito tempo me culpando pelo que não consegui. Hoje vejo que tudo isso é em vão. Não seria mais correto chamar isso de ‘des-ilusão’?

Dra Cardinale: Pode ser, se for entendido no sentido de não se iludir, não idealizar, não ficar mirabolando isso ou aquilo. Nesse sentido, ‘des-ilusão’ não é ruim. Ao contrário: é um grande ganho. Um grande aprendizado. Na prática, Malu, temos que compreender que tentar controlar demais, prever demais, é algo inócuo, sem sentido. Não adianta espernear. Temos que procurar sentir e fazer nossa parte. Fazer o possível. Usar também o que eu chamo de vetor racional. É fundamental mesclar. Vai vivendo. Deixa que cada um faça o que tem que ser feito. O Universo também tem que fazer a dele. Quando vemos, Ele vai ajeitando as coisas, como elas têm que ser. O bom disso tudo é que estamos juntas, numa ‘recostura’ de eus. Juntou-se desejo, emoção, razão, conhecimento. Há mais serenidade em nossa fala, em nosso coração, porque o amor ganhou outra dimensão. Já era tempo.



















Um comentário:

  1. Li!
    Ufa!
    Não sou tão disvairada quanto imaginava, após ler Maria Luiza, Malu e Dra. Cardinale.
    Ju Nascimento

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