quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Encontro de leoas 6




Maria Luiza: Ahhhhhhh! Então quer dizer que você vai querer terminar o ano de onde começou? Nada aconteceu? Você enlouqueceu ou está só fazendo de conta?

Malu: Calma. Calma. Para tudo existe uma explicação. Risos. Foi só um descuido, me distraí.

Maria Luiza: Certo. Certo. Um pequeno descuido e você quer se deixar soltar no mar de afeto aquele... Me diz: onde você se doutorou em tonta? Qual é a universidade que tem doutorado nisso?

Malu: Mas criatura, você está cansada de saber que me doutorei em Ciências da Comunicação, pela USP. Quase me matei estudando pra isso.

Maria Luiza: Tá, mas não é o que parece. Estou cansada é de te ver derrapando e caindo sempre na mesma armadilha, sempre o mesmo tipo de afeto te pega, te toma, te mobiliza e te põe maluca de verdade.

Malu: Não. É que o afeto esse é... lindo! Moreno. Risos. Mas você tem que admitir. Estou mais madura. Passei o ano todo na minha. Quieta. Quase quieta. Tá. Não muito quieta, é verdade. Na minha condição de pessoa livre, solteira. Amorosamente apaixonada pelas pessoas. Sem compromisso. Não sozinha. Mais recentemente é que as coisas têm se transformado... Também, olhos verdes são irresistíveis. E não são olhos quaisquer... são olhos do.. bem, você sabe.

Maria Luiza: Pois então, segue o baile da transformação das coisas. Não empaca, não recua.

Malu: Mas quem diz que tô empacando? O que eu preciso que você entenda é que há alguns amores que constroem, na gente, o que eu chamo de ‘substrato amoroso’. Não há nada que abale. Não importa tempo. Não importa nada. Quando se remexe nele... tudo volta. Tudo brota, sempre com o mesmo viço. Às vezes mais...

Maria Luiza: Ah, mas, como diria, meu filho, tu tá tirando onda com minha cara? Sempre com a mesma idiotice, você quer dizer?

Malu: Onda, onda... mar.. risos... isso me fez pensar em algo... bem..não, quero dizer, não é isso. Sou fiel aos meus sentimentos. Sempre fui. Às vezes, me vem um surto de sinceridade e digo as coisas... Já passei da idade de me importar com picuinhas e não me toques. Se um mar de afeto se remexe.. eu deixo vir... se não é suficiente, não é por isso que ele deixa de existir. Como sou, posso produzir outros mares, mas eles não se substituem, só se acumulam... camadas e camadas de substrato amoroso. Assim, são meus amores que se foram....

Maria Luiza: E que não se foram também?

Malu: Ei, ei, cada coisa no seu tempo. Cada amor no seu momento. Cada um tem seu canto, sua possibilidade e duração. Atualmente só tenho ‘um’ amor. Os outros são de outro tipo. Bem... vale o que disse o poeta sobre a finitude da paixão; a infinitude do que se vive, quando se está junto. A condição eterna do substrato amoroso construído a dois.

Maria Luiza: Ihh.. grave, muito grave. Ela está bêbada de afeto e poesia. Melhor deixar quieta, ver se passa...

Malu: Passa, pode ter certeza que passa, mas demora. Você leva tudo muito a sério...

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