terça-feira, 8 de março de 2011

Sebastião, para quem conhece...


Sempre que ele chega é uma alegria. É uma pessoa forte. De personalidade forte. Amigo, até debaixo d’água, sem meias palavras, desses que não poupam a gente, quando é necessário não poupar. Ele tem o que eu chamo de ‘o texto inteiro’. Abre a boca e diz. Sofre junto, eu vejo que sofre junto, quando as notícias não são boas, quando o que tem que dizer não é o que eu gostaria de ouvir. Os seus conselhos, contudo, são preciosos. Ele tem a visão de mundo mais ampla, é sábio, enxerga longe, literalmente. Por isso, eu sempre me alegro tanto quando ele diz: “Vai, tenta!” e, na mesma proporção, me entristeço, resignada, quando ele sinaliza algo que contraria a minha vontade: “Cai fora! Não vale a pena!”. Eu sei que não vale a pena insistir. Sua amizade incondicional, no entanto, é um bem imenso, uma graça divina.

Sebastião é uma pessoa rara. De fala simples e sábia. Eu me sinto verdadeiramente privilegiada por ser sua amiga. Apesar do jeito, ele nunca ‘manda’, mas ‘dá o texto’, você faz o que quiser. “O que eu vejo é isso, mas você é dona do seu nariz!”. Eu fico em dúvida, às vezes, acho que nem dona do meu nariz eu sou, mas isso não é culpa do Sebastião, mas do fato de que a vida não se faz sozinha. A vida é sempre entrelaçada em muitas outras vidas e, nesse sentido, a decisão que tomamos sempre tem implicações e depende do movimento de outras pessoas. Quando se tem filhos, então, isso é ainda mais complexo... porque são pessoas em ‘criação’, nossas maiores e mais delicadas ‘obras-primas’, que partilhamos humildemente com Deus. Meu Deus, como as coisas são difíceis às vezes! Não fosse a existência de amigos, como o Sebastião, seriam mais.

Outro dia, ele veio me visitar. Chegou como sempre, parecendo um trovão, com sua voz grossa. Eu vi que ele chegou meio contrariado. Parecia cansado. Meu amigo Sebastião também trabalha muito. Ele coordena uma equipe grande de pessoas que têm muita responsabilidade. Pela experiência que ele demonstra ter com os assuntos da vida, sua idade é incalculável. O mesmo não acontece com a aparência. Sebastião é um homem bonito, encantador, que não denota a idade que tem. Ao longo dos anos, tem suavizado a personalidade, demonstra cada vez mais sensibilidade com as coisas da vida, as emoções. Eu o conheço há mais de 30 anos.. não sei, já perdi as contas.. e vejo que ele melhorou como pessoa, como ser humano, também na sua dimensão espiritual. Antes, quando falava, parecia que estava sempre dando bronca. Bom, eu também era muito jovem... hoje, não é muito fácil me assustar.

De qualquer modo, a fala de Sebastião está mudada, embora talvez só quem o conheça entenda o que eu digo. Não, a fala dele não é morna. Ele é uma pessoa intensa e que não faz rodeios. Eu acho bom. Apesar da minha emocionalidade exagerada, já me dei conta que os homens que mais me encantam são os ‘brutos’, no sentido existencial. Homem com configuração ‘leão’. Já tentei me corrigir, mas, quando vejo, me apaixono pelo mesmo perfil... Certo, há uns que exageram e eu, mesmo leoa, acabo me distanciando, mas não é o jeito que incomoda, é o não trânsito entre situações, a falta de dosagem. Sebastião, não. Se tem que brigar, briga. Se tem que falar, fala. Se tem que elogiar, elogia. Mas, sempre, eu sempre sei que ele vai estar ali. Sebastião não abandona.

Sebastião é amigo de fé. Nossa amizade de anos, de muitos anos, permanece inalterada. Representa aquilo para o que eu venho chamando atenção, no sentido de que as pessoas precisam valorizar mais a amizade plena.... a amizade como laço que dá sustento à vida. A amizade incondicional. A amizade como entrelaçamento de vidas que transpõe existências... encarnações.. .a amizade que vai se constituindo na certeza de que o outro não rejeita, não quer mal, não abandona. Penso que uma amizade assim tem que estar na base no amor apaixonado, embora não seja necessariamente a mesma coisa. Sem essa base de amizade, o amor não vinga, porque não consegue sobreviver às intempéries tantas, que são inerentes à paixão, à convivência e ao medo (mesmo) de amar. Sebastião é meu amigo. E eu sou muito agradecida a Deus por isso.

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