quinta-feira, 10 de março de 2011

Era uma vez, uma Ritella! Margherita! Margarida!




Ritella era uma menina ativa. Muito ativa. Dessas em que a vida pulsa o tempo todo e que têm a mente acionada sempre, veloz. Sempre inventando moda. A história da Ritella é uma das mais lindas que conheço. Eu vou contá-la aos poucos. Não há como contar tudo de uma vez. Muita história. Muita vida. Tudo intenso. Ritella vivia na Itália, no Sul da Itália, no século passado, nos anos de 1940. Ritella, então, viu a guerra, a triste e dura Segunda Guerra Mundial. Ela nasceu em 1941.

Na época, sua família foi se esconder nas montanhas. Nas terras do pai de Ritella. Foi lá que ela viveu os primeiros anos, em meio aos bombardeios, à correria de desespero, quando os alemães começavam a bombardear. Ritella uma vez escapou do esconderijo e saiu engatinhando. Quando sua mãe se deu por conta, ela já estava fora do alcance. E os aviões alemães começaram a baixar... barulhentos, para reiniciar o bombardeio. Ritella não sabia o que estava acontecendo. Mostrava apenas um traço seu, forte, esse de ir buscar o que quer, de não esperar.. de sair em busca de outros lugares. Ritella já era forte, decidida e ousada. Ritella também já era abençoada.

Vejam só o que aconteceu: os alemães jogaram uma bomba. A mãe de Ritella, desesperada, ajoelhou-se imediatamente e implorou a Santa Rita, que salvasse sua filha. Até então, ela se chamaria “Margherita!” (Margarida!). Não havia sido registrada ainda, por causa da guerra. Em tempo de guerra, as burocracias são postergadas. Todo mundo trata de tentar salvar a vida, ter alimento, literalmente, ‘sobreviver’. A mãe de Ritella prometeu que, se ela não morresse, ela se chamaria Rita, em homenagem à Santa Rita. A bomba não explodiu. Ritella esteve bem perto. Ela foi jogada perto de Ritella, mas não explodiu. Quando os alemães foram embora, no entanto, antes que a mãe de Ritella pudesse buscá-la, ela bateu a testa em algo e fez um pequeno machucado, que sangrou, de modo semelhante ao que as imagens de Santa Rita apresentam. Era como uma marca. Ritella ficou com o sinal, para sempre. Um sinal na testa, que parece confirmar que ela foi salva por Santa Rita. Praticamente nasceu de novo, a menina Ritella.

A menina foi crescendo ali, onde viu muitas, mas muitas cenas tristes. Guardou para sempre, por exemplo, a cena de uma senhora de idade, que decidiu ir buscar água para a família. A água do esconderijo havia terminado. Todos estavam com muita sede. Não havia água para nada. A senhora então disse que iria, que ela já era velha, que já tinha vivido muito. Ninguém queria que fosse. Mas ela decidiu ir, para o bem de todos. Foi, chegou a pegar a água, colocar na cabeça. Ritella lembra, com tristeza, de cena em que a senhora caminhava com dificuldade, mas feliz, por estar conseguindo. Enquanto isso, os aviões alemães sobrevoavam o lugar... era uma tensão muito grande. Todos acompanhavam apreensivos. Por alguns momentos, parecia que iam deixar a senhora voltar com a água. Quando ela estava se aproximando do local em que estavam protegidos, os alemães mataram a mulher, sob os olhos aterrorizados de todos, adultos e crianças. A guerra não poupa ninguém. A guerra tem requintes de crueldade que se imprimem nas memórias de todos, em níveis conscientes e inconscientes, a tal ponto que, mesmo depois de muitos anos, as cenas, as vivências voltam e doem.

Ritella sobreviveu, com a experiência da guerra servindo de alerta para que produzisse o amor ao próximo. Com o fim da guerra, ela voltou para sua cidade e ali vivia com sua família. A vida recomeçando em uma Itália pobre, mas criativa. Ritella muitas vezes fugia para as montanhas para apanhar cerejas, fruta pela qual ela se manteve sempre apaixonada. Nessas escapadas, vez por outra chegava em casa se esgueirando... se escondendo da mãe, porque voltava sem ‘alguma’ peça de roupa. Ritella sempre apanhava, quando isso acontecia. Sua mãe não levava em conta o seu argumento. Ela contava pra mãe que tinha dado a roupa de presente para uma outra menina que encontrara na montanha. Dizia (em italiano): “Mas mãe, eu tenho outras roupas aqui. A menina não tinha nada...”. A mãe dela não relevava... ficava furiosa. A mãe dela era muito brava...Não aceitava.

Bem, como eu disse, a história de Ritella vai longe. Hoje vou ficar por aqui. Só quero dizer mais uma coisa..Ritella era Margherita. Margherita significa Margarida, porque Margaridas Brancas eram as preferidas do pai de Ritella. Ritella é uma pessoa MUITO especial pra mim. A ela, eu devo nada mais, nada menos que minha vida. Ritella é Rita Cardinale, a adorável senhora minha mãe. Ela é a grande homenageada aqui, neste espaço Margaridas Brancas!, que tem este nome, por causa da Ritella, Margherita, Rita Cardinale!

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