A frase me veio hoje à cabeça, em uma situação
importante. Um filho é uma alma da gente! Eu sei, alma não tem dono, não faz
sentido, mas eu penso que a frase veio, porque eu senti e pensei que um filho é
uma alma que o cosmo escolheu para estar sob os nossos cuidados. Cuidados
imensos, entrelaços na mesma proporção. Uma alma que nos desafia, nos alegra,
nos preocupa, às vezes também nos cuida... Uma alma ‘nossa’! Uma alma amada,
com quem se cultiva o amor e se aprende a amar e estabelecer e reconhecer
limites! Uma alma que nos faz humildes, profundamente humildes, compreendemos
que sabemos pouco da vida e que nada está decidido nunca, nada que sabemos de
nós mesmos vale para o outro que vive outra vida, em outro tempo, com outras
tramas existenciais. Tudo tem que ser construído na vivência e na trama de
entrelaçamentos e acontecimentos.
Ao mesmo tempo, parece que somos nós mesmos do lado ‘de fora’.
É como se fosse o desdobramento da nossa própria alma, um desdobramento do
nosso corpo físico espiritual emocional. Eu já tinha ouvido falar que um filho
é o coração da gente multiplicado. Não, não é só isso. É muito mais que o
coração. Sinto que há entre nós uma ligação de natureza meio mágica, um
filamento espiritual que nos une e nos faz conectados, para muito além do que é
visível, para muito além do corpo físico, para muito além do que eu um dia pude
imaginar. Eu sempre tive isso especialmente com minha mãe, mas não entendia bem. Só sabia que era uma conexão profunda. Ainda hoje temos conexões sem explicação no mundo físico, material. Coisas de mãe-filha.
Agora, nesse outro tempo da minha vida, todas as vezes que
meu olhar encontra os olhos dos meus filhos parece que o mundo, a vida, faz
sentido e eu vislumbro meu sentido de vida. E que o sentido mesmo é um texto que não pode ser dito na sua completude, até porque é um texto que eu não sei completo. Eu
só pressinto, porque é um texto sempre em construção, um texto que se constrói
junto, na relação. Percebo que há uma matriz de desejo do que eu quero dizer, em síntese, para
essas almas minhas. Sim, porque parece que viemos para nos colocar em situações
de desafios de construção de potência, situações que são acionadas pelo motor
gerador do próprio sujeito. E, assim, o que eu mais quero dizer é: acredita,
você pode! Não há modelo, não há um jeito pronto, mas há o que 'você pode fazer' com
seu jeito, com sua marca, descobrindo sempre ‘o que te importa?’. Eu não te quero
do ‘meu jeito’, eu te quero ‘seu’, autônomo, ser por você mesmo. Meu modelo é
insignificante para quem tem uma vida inteira pela frente. Minha vida e meu jeito
não são modelos para ninguém. Eu me considero uma pessoa esforçada, totalmente voltada para o bem-querer-bem, mas isso não quer dizer que eu tenha respostas... que eu saiba muita coisa.
Fico pensando que apesar de lidar tanto com as palavras, com
meus filhos eu falo mais intensa e adequadamente de outras maneiras. Produzimos
interações e significações, muitas vezes, sem texto verbal. Produzimos textos
intensidades abstratas, que nos conectam e fazem com que o rumo da prosa seja
amoroso, intenso, até mesmo quando discordamos. É uma vida inteira, talvez mais
que isso, é um tempo intensidade que, pelo que entendo, não se limita a esse
tempo que estou por aqui. Bem, por óbvio, este texto aqui não termina... deixo,
no entanto, a frase em resposta à pergunta de um dos meus filhos, quando
pequeno. Ele chegava perto de mim e me perguntava: “Mãe, você nunca vai me
esquecer?”. E eu que digo frequentemente
que ‘nunca’ é muito tempo, neste caso, posso afirmar: “Nunca! Não posso
esquecer, desistir e não acreditar em transformações, para melhor, de seres que
estão conectados à minha própria alma. São minha própria vida prolongada, meu
fluxo de vida, minha respiração, minha pulsação existencial! Sou muito
agradecida pelos filhos que tenho, pela almas que recebi para cuidar! Assim como sou muito grata pelas almas com as quais pude me (re)encontrar! Muito!
Lembro-me do poeta Fernando Pessoa, que
disse: "Tudo vale a pena quando a alma não é pequena." No nosso caso,
somos almas entrelaçadas e, por isso, fortes! Tudo vale muito a pena!
Nenhum comentário:
Postar um comentário