A energia da casa precisa ser trabalhada com entrelaços de
amorosidade e firmeza. Há laços a serem revisados, ajustados, laços que
enlaçam, que envolvem os sujeitos, ao mesmo tempo que são agenciados por esses
próprios sujeitos, numa energia que emana e se autoproduz constantemente. Campo
de floresceres, campo de usinagem de vida. Habitat de seres-alma entrelaçados
por uma razão sensível cósmica. Leva-se muito tempo para entender o que se
sente todos os dias, o que vai tranversalizando a nós mesmos, construindo
liames, em cenas compartilhadas, frases, olhares, risos, gestos, carícias
trocadas. Momentos de aprendizado imenso...em que se aprende a compartilhar,
conviver, dividir o alimento, o sustento, os sabores e amores.
A casa da gente é uma matriz ecossistêmica de força, de onde
florescem projetos de vida, de seres-flores, seres que, em determinado momento,
se vão, pelo mundo afora, para construir outras casas-matrizes de
florescimentos. O que acontece é que a casa é uma roupa grande, uma outra pele,
maior, mais densa, que reveste a vida da gente, na usina de produção, em
entrelaços com os seres que o Universo escolheu para serem nossos, nessa vida,
nessa passagem-viagem! Cada um constitui uma parte de um texto maior, textura,
tessitura de vidas em brotação.
Eu gosto das minhas casas. Gosto de cada coisa, das
minúcias. Em cada detalhe, há vestígios de mim mesma, ali, inscrita no tempo e
nas minhas tantas limitações e algumas potencialidades. Gosto do que venho construindo e tenho
respeito pelo que pude (e também pelo que não pude!) fazer. Fui vivendo sempre
no meu máximo, fazendo sempre o que podia, como tentativa imensa, me esforçando
para conseguir manter a família, manter os projetos seres filhos, como seres de
amor e bem-querer-bem. Há também sinais de muitas dores vividas, muitos
momentos sofridos, desgastes da vida, momentos impensados, violência existencial.
Nem tudo são flores, mas das dores também floresceu um ser Malu mais forte,
sensivelmente mais forte. Fui o que precisava ser, em cada momento.
“De tudo ficou um pouco”, como diz Drummond, em um dos meus
poemas preferidos, lindamente intitulado Resíduo. Também há nas minhas casas
meus melhores momentos, os momentos cúmplices, os momentos de paixão, momentos
de impetuosidade e italianidade, momentos ardentes. Foram todos momentos de
amor profundo. É esse amor que sinto, ainda hoje, me sustenta e mantém viva a
orientação para trabalhar a energia das casas, para tentar fazê-las mais
acolhedoras, mais floridas, mais amorosas. São casas simples, sem cadeiras na
calçada, porque minha condição de vida não me permite morar em ‘casa, casa’
mesmo... Meus espaços de vida são ‘casa’, porque fiz ‘casa’ dos apartamentos que
tenho... casa, morada, toca da leoa, Solar Cardinale, onde transitam pessoas
que amo ou por quem tenho amoramizade! Assim como tem que ser!